sábado, 1 de janeiro de 2011

Marilia Mercer

Parto de Cócoras - Revista Pais e Filhos
de mil novecentos e bolinha.
Minha história com o parto e coisas afins começou lá na minha infância. Minha mãe fez um trabalho sobre o desenvolvimento do bebê e o parto. Ela juntou numa pasta vermelha fascículos da Revista Pais e Filhos que mostravam o desenvolvimento do bebê mês a mês desde a concepção. Nas últimas páginas tinham os tipos de partos e eu ficava horas olhando aquelas imagens. Dias atrás em um encontro sobre a humanização do parto uma destas imagens apareceu na tela e chegou a me arrepiar. Me fez lembrar o quanto eu já estava envolvida neste universo e nem me dava conta disso. Eu ficava maravilhada com o bebê saindo e a água saindo junto. Achava tudo muito natural e bonito. 

Parto do Mateus
Eu nasci de parto normal, todos os meus irmãos também nasceram. Assim como todos os meus tios das duas famílias, materna e paterna. Eu nunca pensei em escolher para mim outra opção. A não ser que fosse necessário. Quando engravidei do meu primeiro filho mesmo sendo bem jovem optei pelo parto normal. Eu lembrava que existia parto de cócoras e pensava que teria acesso a ele no momento do parto. Mas como bem sabemos, as coisas não são bem assim. Mateus nasceu de parto normal com ocitocina e analgesia e eu deitada numa mesa de parto. Ficou comigo desde a hora que saímos da sala de parto.  Não foi nada traumático e se me perguntassem se eu ia ter outros filhos eu respondia: Com certeza que sim!
Quando meu filho estava maior fiz o curso Técnico em Radiologia na Escola Técnica da Universidade Federal do Paraná. Durante o curso conheci a Prof. Guiomar Martins. Ela nos ensinou muito sobre Humanização da Saúde. Estudar sobre a humanização me permitiu tratar os pacientes de uma forma melhor nos serviços onde eu trabalhava. Seja radiografando uma pessoa inconsciente na U.T.I. ou fazendo uma mamografia, eu sempre prezei por um tratamento humanizado. 

Mateus eu e o Biel já tomado banho.
Nosso primeiro contato foi depois
de 4 horas do nascimento :(.
O tempo passou e resolvemos ter outro filho. A gestação foi muito tranquila, mas eu não busquei saber nada sobre parto humanizado. Pensava que como o primeiro parto tinha sido ótimo o segundo também seria. Apesar de ter sido muito rápido, como o primeiro, no final do trabalho de parto eu tive algumas angústias. Eu já estava com 10cm de dilatação e me ofereceram uma anestesia ráqui. Eu aceitei. Depois disso eu não conseguia mais fazer força direito porque eu não sentia que estava respirando. O bebê demorou a sair e quase foi usado fórceps. Ele nasceu bem, mas o fato de eu me sentir incapaz, o medo de morrer ou de perder ele e ter ficado mais de 4 horas sem ver ou pegar o meu bebê, estes "pequenos detalhes", desencadearam  uma leve depressão pós-parto e alguns ataques de pânico. Quando me perguntaram quando eu teria outro filho eu respondi: NUNCA MAIS!

Buscando fortalecer o vínculo com o Gabriel por causa de toda a minha situação emocional eu comecei a carregar ele no sling. Vim para Londrina onde eu era constantemente parada na rua para saber onde eu tinha comprado o "pano" que segurava o bebê. Comecei a fabricar os slings para atender a demanda. E numa dessas buscas por artigos sobre o sling eu acabei encontrando respostas para o que tinha acontecido comigo. Se eu tivesse a oportunidade de parir o Gabriel mais ativamente eu não teria sofrido. Só o fato de mudar a posição na hora dele sair já teria melhorado muito o quadro. 
E foi assim que eu comecei a pesquisar cada vez mais sobre o assunto. Um belo dia encontrei a Patricia Bortolott,o que é doula, e numa conversa super descontraída ela me questionou alguns procedimentos realizados nos meus partos. Eu ficava pensando: O que mais que ela quer? Já não foi parto normal? Foi aí que entendi que não basta que o bebê e a mãe estejam bem no final das contas. Importa que o nascimento seja com respeito e que o parto seja uma experiência prazerosa! 

Eu e a Thelminha no GestaLondrina
Depois que esta ficha caiu eu comecei a lutar para que outras mulheres não passem pelo que eu passei. Isso foi possível graças ao Gesta. Grupo criado pela doula Patricia Merlin de Maringá. Ela precisava de alguém para organizar o grupo aqui em Londrina e eu me dispus a isso junto com a Thelma que é Enf. Obstétrica. Foi no Gesta que eu descobri a minha vontade e vocação para ser doula. E foi no Gesta também que o desejo por um terceiro filho aumentou :). Conheci a Lorena Mussi (fisioterapeuta e doula) e combinamos que primeiro eu engravidaria e ela seria minha doula e depois eu retribuiria. 

Parto da Lais 
O combinado deu certo! Engravidei pela terceira vez e desta vez estava totalmente preparada e ciente de como eu queria que fosse eu meu parto. A Lorena me doulou e foi maravilhoso! Lais nasceu um pouco antes, com 36 semanas mas nasceu muito bem! O parto foi uma experiência incrível!!! Assim que a Laís foi levada para ser examinada (por ser prematura) eu olhei para a Lorena e falei: Eu poderia ter uns 10 filhos desse jeito! Foi tudo da maneira que eu queria. Meu marido sempre comigo e não somente na hora que o bebê estava saindo, o meu médico obstetra Dr. Alessandro Galletto que respeitou todos os meus desejos mesmo a Lais sendo prematura e a Lorena perfeita como doula. Foi realmente lindo e prazeroso o parto dos meus sonhos. 
Eu doulando a Lorena

Ninguém sabia, mas a Lorena já estava grávida quando me doulou. 8 meses depois eu tive a honra de acompanhar o parto da Cecília como doula. Uma experiência incrível!
Eu comecei pelo lado "avesso". Acompanhei alguns partos antes de me formar. Agora em 2012 que fiz um curso de formação de doulas. Para mim foi muito importante ter a teoria para dar mais base à minha prática.




Tenho a consciência que não basta somente o meu serviço como doula para mudar a forma como muitos bebês nascem. O meu sonho é que aqui em Londrina o atendimento do SUS seja tão ou mais humanizado que o atendimento particular ou por convênio. E para isso eu tenho lutado junto com algumas mulheres maravilhosas como a Marisse Queiroz e a Ana Carolina Franzon. Temos levado nossas propostas para a esfera política através da Secretaria da Mulher e da Secretaria de Saúde de Londrina. 

"Para mudar o mundo primeiro é preciso mudar a forma de nascer." (Michel Odent)



Eu não tenho a pretensão de mudar todo o mundo, mas quero muito mudar o mundo ao meu redor.