sexta-feira, 30 de novembro de 2012

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Nasceu Valentina da Paula e do Maurício!


A Paula é aqui de Londrina. Mas está morando em Curitiba. Queria muito que a Valentina nascesse aqui e fosse uma bebezinha "pé vermeio". Então me procurou. Ela viria pra cá na casa dos pais para ter a bebê. Tivemos alguns encontros e percebi que ela estava muito decidida ao parto natural. Aliás, ela e o marido :). 
Ela participou bastante do GestaLondrina e GestaCuritiba virtualmente e presencialmente também. 

A vinda para Londrina estava marcada para o dia 30, mas ontem de madrugada ela me ligou informando que havia rompido a bolsa. A médica que fazia o pré-natal foi meio desatenciosa com ela, mas conseguimos ajuda da Adelita do Grupo Parto Luar para que ela fosse examinada e decidisse o que fazer. 
Quando foi examinada estava já com 6 cm de dilatação. Resolveu ficar em casa o máximo que conseguisse. E assim foi. Eu fiquei com eles no Skype até irem para a maternidade. Foram pra lá quando ela estava com contrações a cada 3 minutos mais ou menos. Chegaram ao hospital e meia hora depois Valentina nasceu! Foi de cócoras no chão, quando todos mandavam a Paula deitar na cama! Parabéns Paula e Maurício!!! Muito leite pra Valentina!!! 

O parto nem sempre vai ser como/onde imaginamos, mas quando sabemos o que queremos e somos firmes nisso mesmo as coisas não saindo exatamente da maneira que pensamos ainda pode-se ter uma experiência maravilhosa.

Valentina nasceu com 2,600 kg as 11:54.

BjoS!!!

domingo, 25 de novembro de 2012

Violência Obstétrica - a Voz das Brasileiras

Assistam e vejam o quanto este tipo de violência afeta as nossas mulheres.
É real!
Por que temos ignorado isso? O que podemos fazer para mudar?



Até mais!

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O que é o colostro? Quais seus benefícios para o meu bebê?


Seus seios produzem colostro durante a gravidez e continuam produzindo até os primeiros dias de amamentação. Este leite especial é de cor amarelo-alaranjada e espesso e pegajoso. É pobre em gordura e rico em carboidratos, proteínas e anticorpos para ajudar a manter seu bebê saudável. O colostro é extremamente fácil de digerir, e é portanto, o primeiro alimento perfeito para o seu bebê. É pobre em volume (mensurável em colheres de chá ao invés de colheres de sopa), mas rico em nutrição concentrada para o recém-nascido. O colostro tem um efeito laxante sobre o bebê, ajudando-o a eliminar suas primeiras fezes e auxiliando na excreção do excesso de bilirrubina, o que ajuda a prevenir a icterícia.

Colostro
Geralmente quando o bebê é amamentado logo que nasce e por muitas vezes ao longo do dia, os seios vão começar a produzir leite maduro em torno do terceiro ou quarto dia após o nascimento. Seu leite irá então aumentar em volume e começa a parecer mais ralo e mais branco (mais opaco). Nesses primeiros dias, é extremamente importante amamentar o seu recém-nascido pelo menos 8-12 vezes a cada 24 horas, se for  mais frequente é ainda melhor. Isso permite que o seu bebê obtenha todos os benefícios do colostro e também estimula a produção de uma oferta abundante de leite maduro. A amamentação freqüente também ajuda a evitar o ingurgitamento das mamas (seio empedrado).

Seu colostro fornece não só a nutrição perfeita e sob medida para as necessidades de seu recém-nascido, mas também grandes quantidades de células vivas que irão defender o seu bebê contra muitos agentes nocivos. A concentração de fatores do sistema imunológico é muito mais elevado no colostro do que no leite maduro.

O colostro realmente funciona como uma vacina 100% natural e segura. Ele contém uma grande quantidade de um anticorpo chamado imunoglobulina secretória. (IgA), que é uma substância nova para o recém-nascido. Antes do bebê nascer, ele recebeu o benefício de um outro anticorpo, chamado IgG, através de sua placenta. O IgG trabalha através do sistema circulatório do bebê, mas o IgA protege o bebê nos locais mais prováveis de estarem sob o ataque de germes, ou seja, as membranas mucosas da garganta, pulmões e intestinos. 

O colostro tem um papel especialmente importante a desempenhar no trato gastrointestinal do bebê. O intestino de um recém-nascido é muito permeável. O colostro sela todas essas aberturas permeáveis porque "pinta" o trato gastrointestinal com uma barreira que impede que as substâncias exteriores de penetrarem e possivelmente sensibilizarem o bebe com alimentos que a mãe tenha comido.

O colostro também contém altas concentrações de leucócitos, células brancas de proteção que podem destruir bactérias causadoras de doenças e vírus.

Leite maduro. O da esquerda é o leite do início da mamada.
O da direita é o leite posterior, do final da mamada, muito rico em gordura!

O colostro muda gradualmente para o leite maduro, durante as primeiras duas semanas após o nascimento. Durante esta transição, as concentrações dos anticorpos no leite diminuirão de volume, mas seu leite aumenta muito em quantidade. As propriedades de combate a doença do leite humano não desaparecem com o colostro. Na verdade, durante todo o tempo que seu bebê receber o leite, ele receberá proteção imunológica contra muitos tipos diferentes de vírus e bactérias.

A Capacidade do Estômago do Recém-Nascido:
 
Quando as mães ouvem que o colostro é medido em colheres de chá ao invés de muitos ml"s" podem se assustar e pensar se somente isso pode ser o suficiente para seu bebê. A resposta é que o colostro é o único alimento que bebês saudáveis nascidos a termo precisam. A seguir uma explicação:

A capacidade do estômago de um bebê de 1 dia de idade é de cerca de 5-7 ml, mais ou menos do tamanho de uma bolinha de gude pequena. Curiosamente, os pesquisadores descobriram que o estômago do recém-nascido de dias de idade não estica mais para armazenar mais leite. Como as paredes do estômago do recém-nascido permanecem firmes, o leite extra é frequentemente expelido (regurgitação). Seu colostro vem na quantidade certa para a alimentação do seu bebê!

Lá pelo terceiro dia, a capacidade do estômago do recém-nascido cresce para cerca de 22 a 27 ml, mais ou menos o tamanho daquelas bolinhas de gude maiores. Ele precisa de pequenas refeições freqüentes para assegurar que tenha todo o leite de que precisa. Mama mais vezes e em menor quantidade.

Por volta do sétimo dia, a capacidade do estômago do recém-nascido é agora cerca de 60-81 ml, mais ou menos do tamanho de uma bola de ping-pong ou de um ovo de galinha grande. A continuação da alimentação freqüente vai garantir que seu bebê tenha todo o leite que ele precisa, e que sua produção de leite atenda suas demandas.

Fonte: La Leche League http://www.lalecheleague.org/faq/colostrum.html
Tradução livre

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A questão das cesarianas na visão de uma mulher

Aretha Guimarães numa conversa no grupo Parto Natural do Facebook resumiu bem o que acontece muitas vezes com algumas mulheres que querem um parto normal mas acabam tendo que se submeter a uma cesariana desnecessária. 
Lembrando que não estamos falando das cirurgias feitas em situações que realmente precisavam ser feitas!

 Olha, eu acho que o que eu aprendi com o meu não-parto é que a gente tem sim que ficar p*** com os profissionais, tem que botar a boca no mundo, alertar as outras mulheres, mas também temos que assumir a parte que nos cabe. Eu entendo perfeitamente a sua situação porque também tive o parto roubado por "humanizados" e sei o quanto dói, mas acho que a gente tem que se perguntar porque é que entregamos o NOSSO parto nas mãos de um profissional, afinal de contas, é o NOSSO corpo, são os NOSSOS filhos, e tudo o que acontecer com eles é resultado das NOSSAS escolhas. Hoje eu sinto muito isso que a Priscila comentou, de bancar. Antes eu não bancava, e reconheço que foi por isso que eu coloquei todas as minhas expectativas em cima da equipe que me atendeu. Eu achei que pra parir eu só precisaria ir lá, sentir as dores e pronto, acabou, mas não é assim. Tem mesmo que tomar frente da coisa e bancar, porque nem a melhor equipe do mundo vai parir pela gente. 
E acho que essa posição, de entregar o parto na mão dos outros, é uma questão muito mais profunda, que tem muito haver com a nossa criação machista, que é a postura de esperar (igual as princesas dos filmes), passiva, que façam o que é certo pela gente. Enfim, não estou querendo julgar, nem nada, apenas alertar pra que a gente possa fazer uma auto-crítica.

E isso é muito comum. Com o parto o "ser mãe" está apenas começando. Depois que os filhos nascem ainda temos que bancar muita coisa. Eu dou graças que comecei bancando o parto (tive meu primeiro filho adolescente e a maioria nesta situação escolhia cesariana) e tenho certeza que passar pela experiência me ajudou de alguma maneira a entender que mesmo eu sendo muito nova a responsabilidade por aquele ser era só minha.
Não que mulheres que optam pela cesárea seja pelo motivo que for ou que foram enganadas não vão bancar a maternidade. Ou que as que tiveram parto todas vão bancar e pronto.
Passar pelo parto te dá um bônus sim, te faz entender algumas coisas mais facilmente. E o que você faz com um bônus que você ganha também é escolha sua, não é mesmo? :)

BjoS!

A questão das cesarianas

Artigo MARAVILHOSO! Completo aqui: 

A questão das cesarianas
Sérgio Martins-CostaI; José Geraldo Lopes RamosII


Nas últimas décadas tem havido incrementos significativos nas taxas de cesariana em todo o mundo. Países que tradicionalmente apresentavam taxas muito baixas de cesariana, como a Turquia e a Itália, por exemplo, alcançaram, no início dos anos 2000, taxas de 30 e 33%, respectivamente1. Os EUA, que mantinham taxa de cesariana estável inferior a 23% por mais de 20 anos, chegaram a 27,5% de cesáreas em 20032. Na América Latina, o Chile é o país com a maior taxa de cesariana, com 45% em 19993, seguido de perto pelo Brasil, com 37% de cesarianas em 2000. Apesar de o Comitê de Aspectos Éticos em Reprodução Humana e Saúde das Mulheres da FIGO deliberar que é antiético realizar uma cesariana sem indicação médica4, cada vez mais se tem discutido a pertinência ou não da realização de uma cesariana "a pedido". Em qualquer análise que se faça em relação às taxas de cesariana, dois fenômenos ficam bem claros: os percentuais de cesariana estão aumentando em quase todos os países e o número de cesarianas tem relação direta com o atendimento das gestantes feito por médicos especialistas em Ginecologia e Obstetrícia.

Que motivos estão relacionados a este aumento?

Seria demasiada simplificação afirmar simplesmente que os médicos não sabem mais atender partos, ou que por pura conveniência convencem as mulheres de que a cesariana é a melhor opção. Indubitavelmente três argumentos poderiam justificar a afirmação anterior. Para os médicos, é muito mais fácil aprender e fazer cesariana do que aprender a fazer partos. As cesarianas podem ser agendadas. Além disso, levam muito menos tempo do que o acompanhamento a um trabalho de parto e parto. Entretanto, tem sido o aumento da segurança do procedimento o que tem dado à cesariana o grande número de adeptos nos últimos anos.
Até meados do século passado, além de haver menos médicos habilitados ao procedimento da cesariana, sua realização envolvia riscos maternos muito significativos. Entre 1931 e 1940, o Professor Jorge de Rezende registrou sua casuística com 7,89% de mortalidade e 75% de morbidez materna5. Estes riscos estavam associados à anestesia, à infecção e à hemorragia pós-operatória, todos agravados pelo caráter de urgência que envolvia quase que a totalidade das indicações.
Nos últimos tempos, a literatura médica especializada tem dado respaldo à crença de que a cesariana converteu-se em procedimento que traz, inclusive, mais segurança do que o trabalho de parto e parto transpelviano. Isto alcançou tal dimensão que, em agosto de 2003, em seu editorial, o conceituado periódico Obstetrics and Gynecology questiona: "Dever-se-ia oferecer cesariana a todas as mulheres?"6
Mesmo que muitos estudos publicados possam merecer sérias críticas metodológicas, o certo é que, com cada vez mais freqüência, os médicos encontram publicados dados que lhes reforçam a segurança do procedimento, segurança esta que se estende aos três personagens mais fortemente envolvidos no processo do nascimento, quais sejam: a gestante, o recém-nascido e o parteiro.

Segurança da cesariana em relação às gestantes

Historicamente, tem sido dito que a cesariana apresenta risco significativamente maior de mortalidade materna do que o parto. Analisando-se todas as mortes maternas diretas no Reino Unido entre 1994 e 1996, encontramos taxa de mortalidade materna de 2,06:100.000 para as mulheres com parto, 5,85 para as submetidas às cesarianas eletivas e 18,2:100.000 para quando a cesariana foi de emergência, sendo o risco relativo (RR) de morte para as cesarianas em relação aos partos de 6,22 (IC 95%: 3,90-9,90)7. Entretanto, o cálculo de risco não deve ser feito de maneira retrospectiva, uma vez que as cesarianas de emergência, aquelas com maior risco, são sempre fruto da disposição prévia de acompanhar um nascimento via baixa. Quando indicamos um parto transpelviano, geralmente não fornecemos a informação para a paciente de que ela poderá necessitar de uma cesariana de emergência e esta tem risco aumentado de complicações materno-fetais. Comparando-se os partos conjuntamente com as cesarianas de emergência contra as cesarianas eletivas, o cenário muda, com um RR de morte sem diferença significativa entre os dois grupos (RR=1,62; IC 95%: 0,81-3,23). Vários outros estudos têm demonstrado mortalidade materna menor na cesariana eletiva, em relação ao trabalho de parto e parto8-10.
Analisando-se as taxas de cesariana em vários países da América Latina, Belizan et al.11 do CLAP mostraram diminuição significativa das taxas de mortalidade materna a medida que aumentam as taxas de cesariana, até um máximo de 15%, a partir do qual o aumento da cesariana não mais se converte em diminuição da mortalidade. No Brasil, encontramos as maiores taxas de mortalidade materna nas regiões com as menores taxas de cesariana.

Morbidez materna

Em 2003, no New England Jounal of Medicine, Rotveit et al.12 mostraram que o parto vaginal tem razão de chance (OR) 2 com IC a 95% de 1,5 a 3,1 para incontinência urinária moderada a grave em relação à cesariana, com o risco de incontinência urinária caindo de 10% para 5% se uma mulher tiver todos os seus filhos por cesariana eletiva. Além disso, é do conhecimento geral que a cesariana eletiva evita o risco potencial de dano ao esfincter anal, um dos mais freqüentes motivos de processo judicial contra médicos obstetras. Durante o XVII Congresso da FIGO, em 2003, Farrel et al.13 apresentaram inquérito feito entre médicos e enfermeiras-parteiras do Canadá, mostrando que 37 de 162 (23%) profissionais de saúde aprovavam uma cesariana sem indicação médica devido aos riscos potenciais ao assoalho pélvico.
Em mulheres que já têm uma cesariana anterior, o parto vaginal espontâneo apresenta risco de ruptura uterina de 3,5:1000 casos, sendo o risco maior para as mulheres que nunca tiveram partos anteriormente (OR=2,5; IC 95% de 1,6-3,9). O risco de mortalidade perinatal devido à ruptura uterina varia entre 1:1.300 e 1:4.700 nascimentos14. Estes riscos, embora possam parecer pequenos, são significativamente maiores do que quando a cesariana é eletivamente repetida. Portanto, deve ser incentivada a prática de obter um consentimento informado das mulheres que optarem por parto vaginal após cesariana.
Em relação à segurança materna, parece claro que o pior modo de parto é uma cesariana de emergência e o que se associa a menores riscos é o parto vaginal. Portanto, devemos concentrar nossos esforços na qualidade dos cuidados intraparto, evitando-se, sempre que possível, as indicações procrastinadas de cesariana, as quais resultam quase sempre em situações de emergência e de maior risco de complicações.

Segurança da cesariana em relação ao recém-nascido

McFarland et al.15 mostraram que as taxas de tocotraumatismos com danos em nervos e fraturas estão reduzidas em mais do que 50% para os recém-nascidos de cesarianas. Além disso, embora o trabalho de parto e o parto raramente sejam causa de paralisia cerebral no neonato e a taxa de dano cerebral em recém-nascidos não esteja diminuindo com o aumento nos índices de cesariana, há uma crença histórica errônea, mas muito arraigada, de que um parto difícil é causa de dano neurológico no bebê. Tendo sido indicada uma cesariana eletiva, a eventual paralisia cerebral que um recém-nascido apresente jamais será associada ao modo de nascimento. Por outro lado, o risco real destes danos em partos vaginais entre neonatos de mulheres de baixo risco é extremamente baixo. Mesmo para fetos avaliados como macrossômicos, estima-se que seriam necessárias 400 cesarianas eletivas para prevenir um único caso de dano permanente do plexo braquial16.
Ainda que atualmente, com o uso mais freqüente da ultra-sonografia para identificar a idade gestacional, o risco de prematuridade iatrogênica esteja diminuído, a realização de uma cesariana eletiva antes de iniciado o trabalho de parto duplica a morbidade respiratória para cada semana anterior em que a cesariana é feita entre a 37ª e a 40ª semana17. Além disso, há nas cesáreas eletivas aumento de quatro vezes na necessidade de cuidados intensivos de enfermagem, ventilação mecânica e uso de oxigenoterapia nos recém-nascidos e 5,5% das crianças nascidas de cesariana eletiva contra 1,6% das nascidas de parto vaginal não conseguem manter-se respirando em ar ambiente18. Já se discute hoje a necessidade de corticoterapia anteparto para cesarianas eletivas no termo a fim de diminuir o sofrimento respiratório neonatal19.
Portanto, em relação aos recém-nascidos, os dados de literatura, embora conflitantes, não parecem consistentes para justificar que uma cesariana sem indicação médica deva ser feita como profilaxia para dano no neonato.

Segurança da cesariana em relação ao médico

A melhor maneira de se realizar uma boa medicina e não produzir dano em nossos pacientes é tomar decisões baseadas em evidências e não baseadas no medo. Talvez a pior face da medicina moderna é o fato de que a relação entre o médico e seu paciente deixou de ser baseada na confiança para tornar-se uma relação comercial entre um prestador de serviço e um consumidor, sob a tutela do Código do Consumidor, como se o resultado do trabalho do obstetra pudesse ser equiparado à garantia que deve ser exigida na compra de um bem de consumo. Os obstetras de hoje acostumaram-se a decidir suas intervenções sob a ótica do menor risco para si, ao invés do menor risco para a gestante ou seu filho. Esta mudança de atitude tem sido justificada pelos inúmeros processos judiciais contra os médicos, acarretando enorme custo emocional e econômico para quem pratica obstetrícia. Entre 1998 e 2000, na cidade de Porto Alegre (RS), a especialidade de obstetrícia foi, entre todas as especialidades médicas, aquela com o maior número de processos judiciais sobre alegada má prática médica. Quarenta e cinco por cento do total de solicitações judiciais de perícias ao Departamento Médico Legal foram contra obstetras. Os três quesitos mais freqüentemente feitos pelo juiz aos peritos foram: o retardo no nascimento pode ter sido a causa da morte do bebê? Teria sido possível diagnosticar sofrimento fetal mais cedo? Havia indicação de cesariana em algum momento antes da ocorrência do parto vaginal? Por outro lado, não houve nenhum quesito no qual o médico era questionado por uma cesariana desnecessária por ele indicada ou se teria sido melhor um parto vaginal à cesariana.
Não há nenhuma dúvida de que, mesmo que desnecessária ou mesmo que contenha maior risco para a mãe ou para o neonato, uma cesariana eletiva tem muito menor risco para o obstetra.
Somente uma improvável mudança no espírito das relações entre médicos e pacientes poderá alterar este comportamento.

Conclusões

Apesar dos notáveis avanços da medicina perinatal, fazendo com que em muitas vezes uma cesariana eletiva possa ou deva ser a melhor alternativa para salvaguardar a saúde da mulher e de seu filho, o certo é que a grande maioria das mulheres e dos neonatos são capazes de atravessar de maneira saudável o crítico momento do nascimento, sem necessidade de nenhuma intervenção médica. Uma boa medicina pressupõe o entendimento dos processos fisiológicos e, embora possam ocorrer disfunções, a gravidez e a parturição normais são processos fisiológicos.
Muitas questões ainda permanecem sem resposta em relação à escolha do modo de parir: os valores e as preocupações das mulheres (dos casais) mudam com a paridade, com a idade e com as mudanças no estilo de vida? Quais são os riscos das cesarianas sucessivas para as gestantes e seus filhos? Qual o risco real de placentação baixa, acretismo placentário e mortalidade materna nas cesarianas repetidas? Como as complicações iatrogênicas podem ser evitadas? Como podemos prevenir os tocotraumatismos no recém-nascido e os danos ao assoalho pélvico? Como compatibilizar o princípio de autonomia da paciente (solicitando ou negando uma cesariana) com as obrigações médicas de beneficência (fazer o melhor) e não maleficência (não causar dano)?
Muito se tem pesquisado e publicado em relação aos riscos e aos benefícios dos partos e das cesarianas, mas poucos são os estudos com boa qualidade metodológica. Em um dos poucos ensaios clínicos randomizados entre cesariana planejada e parto vaginal, Hannah et al.20 não encontraram diferenças, dois anos após o nascimento, quanto a amamentação, relacionamento com o filho, depressão, incontinência urinária, problemas sexuais, distúrbios menstruais ou fadiga. A única diferença significativa foi um aumento de constipação nas pacientes que realizaram cesariana. Em contrapartida, os recém-nascidos não foram protegidos da morte ou do dano cerebral por terem nascido de cesariana eletiva21.
Talvez tenha chegado o tempo de se realizar um bom ensaio clínico randomizado, para definir com mais clareza os desfechos de mortalidade e morbidez (física e psicológica) a curto e longo prazo, das intervenções sobre o processo do nascimento.

Referências
1. Donati S, Grandolfo ME, Andreozzi S. Do Italian mothers prefer cesarean delivery? Birth. 2003;30(2):89-93.
2. Menacker F. Trends in cesarean rates for first births and repeat cesarean rates for low-risk women: United States, 1990-2003. Natl Vital Stat Rep. 2005;54(4):1-8.
3. Murray SF, Serani F. Recent trends in cesarean section rates in Chile - the political economy of maternal care [homepage en el Internet]. Santiago de Chile: Instituto Nacional de Estadísticas; 2000 [acceso 4 sep 2001]. Disponible in: http://www.ine.cl/chile-cifras
4. Schenker JG, Cain JM. FIGO Committee Report. FIGO Committee for the Ethical Aspects of Human Reproduction and Women's Health. International Federation of Gynecology and Obstetrics. Int J Gynaecol Obstet. 1999;64(3):317-22.
5. Rezende J. Contribuição ao estudo da cesareana abdominal. Rio de Janeiro: A Casa do Livro; 1941. p. 162-82.
6. Nygaard I, Cruikshank DP. Should all women be offered elective cesarean delivery? Obstet Gynecol. 2003;102(2):217-9.
7. Hall MH, Bewley S. Maternal mortality and mode of delivery. Lancet 1999;354(9180):776.
8. Lucas DN, Yentis SM, Kinsella SM, Holdcroft A, May AE, Wee M, et al. Urgency of caesarean section: a new classification. J R Soc Med. 2000;93(7):346-50.
9. Yoles I, Maschiach S. Increased maternal mortality in cesarean section as compared to vaginal delivery? Time for re-evaluation. Am J Obstet Gynecol. 1998;178 Suppl 1:S78.
10.Minkoff H, Chervenak FA. Elective primary cesarean delivery. N Engl J Med. 2003;348(10):946-50.
11.Belizan JM, Althabe R, Barros FC, Alexander S. Rates and implications of caesarean sections in Latin America: ecological study. BMJ. 1999;319(7222):1397-400.
12.Rortveit G, Daltveit AK, Hannestad YS, Hunskaar S; Norwegian EPINCOT Study. Urinary incontinence after vaginal delivery or cesarean section. N Engl J Med. 2003;348(10):900-7.
13.Farrel AS, Basket TF, Farrel KA. Controversies in the management of labour and delivery: a survey of Canadian health care professionals. Int J Gynaecol Obstet. 2003;83 Suppl 1:44.
14.Smith GC, Pell JP, Pasupathy D, Dobbie R. Factors predisposing to perinatal death related to uterine rupture during attempted vaginal birth after caesarean section: retrospective cohort study. BMJ. 2004;329(7462):375.
15.McFarland LV, Raskin M, Daling JR, Benedetti TJ. Erb/Duchenne's palsy: a consequence of fetal macrosomia and method of delivery. Obstet Gynecol. 1986;68(6):784-8.
16.Rouse DJ, Owen J. Prophylactic cesarean delivery for fetal macrosomia diagnosed by means of ultrasonography: a Faustian bargain? Am J Obstet Gynecol. 1999;181(2):332-8.
17.Morrison JJ, Rennie JM, Milton PJ. Neonatal respiratory morbidity and mode of delivery at term.: influence of timing of elective caesarean section. Br J Obstet Gynaecol. 1995;102(2):101-6.
18.Annibale DJ, Hulsey TC, Wagner CL, Southgate WM. Comparative neonatal morbidity of abdominal and vaginal deliveries of uncomplicated pregnancies. Arch Pediatr Adolesc Med. 1995;149(8):862-7.
19.Stutchfield P, Whitaker R, Russel I; Antenatal Steroids for Term Elective Caesarean Section (ASTECS) Research Team. Antenatal betamethasone and incidence of neonatal respiratory distress after elective caesarean section: pragmatic randomized trial. BMJ. 2005;331(7518):662-9.
20.Hannah ME, Whyte H, Hannah WJ, Hewson S, Amankwah K, Cheng M, et al. Maternal outcomes at 2 years after planned cesarean section versus planned vaginal birth for breech presentation at term: the international randomized Term Breech Trial. Am J Obstet Gynecol. 2004;191(3):917-27.
21.White H, Hannah ME, Saigal S, Hannah WJ, Hewson S, Amankwah K, et al. Outcomes of children at 2 years after planned cesarean birth versus planned vaginal birth for breech presentation at term: the International Randomized Term Breech Trial. Am J Obstet Gynecol. 2004;191(3):864-71.

domingo, 18 de novembro de 2012

Exercícios com a Bola de Pilates

A Daniela Garcia enviou estes vídeos no Facebook hoje e eu achei útil disponibilizar aqui no blog.
Vai pra videoteca :)
Estão em inglês, mas é muito fácil de entender.
Numa gestação de baixo risco os exercícios são sempre liberados e até incentivados. Mas fale com seu médico antes de começar a praticar.

Aquecimento:
Este movimento pode ser usado também na hora do parto.
No vídeo é explicado para manter as costas retas e deixar os pés um pouco mais abertos em relação aos ombros.
Repetir pelo menos 20 vezes. Tenha certeza que está fazendo somente o que o seu corpo consegue, não exija mais nem menos.



Exercício para o parto normal:

Este movimento pode ser usado também na hora do parto.
No vídeo é explicado para manter as costas retas e deixar os pés um pouco mais abertos em relação aos ombros.
Repetir pelo menos 20 vezes. Tenha certeza que está fazendo somente o que o seu corpo consegue, não exija mais nem menos.


Alongamento (terceiro trimestre de gestação):
Ótimo exercício para alongar a parte de cima do corpo. Mesma posição do anterior.
Repetir pelo menos 10 vezes cada lado. Tenha certeza que está fazendo somente o que o seu corpo consegue, não exija mais nem menos.



Fortalecendo a lombar:
Exercício que pode ser praticado durante toda a gestação. Use uma toalha embaixo da bola para dar estabilidade. Preste atenção na posição dos joelhos e dos ombros e não pressione a barriga contra bola.
O objetivo é usar o músculo das costas para erguer o corpo, não os braços.
Siga o limite do seu corpo.



Exercício para aliviar a pressão na lombar:
Preste atenção em como o corpo fica horizontal no fim da descida com a bola e como ele fica vertical depois da subida.
Repetir pelo menos 10 vezes. Tenha certeza que está fazendo somente o que o seu corpo consegue, não exija mais nem menos.



Muito bons os exercícios, tem muito mais no canal deles e vou colocando aqui aos poucos.

Até mais!!!

sábado, 17 de novembro de 2012

Armas e Bisturis (pelo Obstetra Ricardo Jones)

Armas e Bisturis

O problema com o uso excessivo da tecnologia obstétrica não depende de pessoas ou profissionais. Nós precisamos nos livrar da ideia de "Doutores = maus" e "Parteiras = Anjos". Isso não é verdadeiro, e todos nós conhecemos grandes médicos humanistas e "não tão maravilhosas e angelicais" parteiras. O importante não é mudar as pessoas, mas mudar o sistema, transformar o paradigma, resgatar o parto para as mulheres e deixá-las decidir sobre seus corpos e nascimentos. O problema no meu país, o Brasil, é que 90% dos nascimentos são assistidos por médicos, treinado exaustivamente no tratamento de patologias e no uso de cirurgias. Os médicos egressos das escolas médicas do meu país não estão interessados na fisiologia “alargada” do parto, e são, em sua maioria, incapazes de compreender os dilemas psicológicos, emocionais, sociais e espirituais do parto. Precisamos, evidentemente, de profissionais largamente treinadas na fisiologia do parto: as parteiras. Nós, médicos (eu sou um médico , ginecologista, obstetra e homeopata) não entendemos o nascimento como um processo vital. Em vez disso, nós o vemos como uma doença, ou um "evento vital potencialmente ameaçador", frequentemente chamado de “bomba relógio”. Normalmente obstetras são bons para resolver problemas (os mesmos criados através de excesso de intervenções) no parto, como pré eclampsia, diabetes, parto obstruído, etc., e nós possuímos uma ferramenta maravilhosa para tal tarefa: a cesariana. O problema é que uma vez que oferecemos para uma categoria profissional específica a capacidade de "resolver" o nascimento de forma tecnologia, a sedução para usá-la de maneira abusiva é tremenda. Vivemos na "mitologia da transcendência tecnológica ", e ainda acreditamos que seu uso faz mais bem do que mal. Infelizmente, a pesquisa nos mostra que já fomos longe demais.

Deixe-me contar uma história interessante sobre tecnologia. Em uma "reserva natural" específica na África do Sul, os guardas eram recrutados entre os moradores locais, grupamentos populacionais que viviam próximos da selva por séculos. Um certo dia, um guarda da reserva foi morto por um leão, e o gerente do parque foi acusado de não proteger adequadamente seus funcionários oferecendo-lhes armas para a proteção pessoal. Pressionado pela mídia e pelos outros guardas, ele decidiu comprar um rifle para cada um, como forma de defendê-los de possíveis ataques. "Ok, feito. Agora eles serão protegidos", ele pensou.

Meses após essa decisão, ele notou que um grande número de animais haviam sido mortos por guardas, em um ritmo nunca visto antes. Logo ele descobriu que, uma vez que eles tinham armas pessoais, o menor risco (como a proximidade de um rinoceronte, ou um leopardo) era suficiente para assustar os trabalhadores do parque, e eles se tornaram propensos a usar a sua "arma tecnológica". Depois de um ano, o diretor do parque estava convencido de que as habilidades milenares desenvolvidas para lidar com os animais (o silêncio, o contacto visual, os sons, a posição do corpo para encarar os felinos, a "linguagem" utilizada, o respeito pelos seus habitats, etc) foi sendo perdida por causa do "bypass" sedutor de "resolver" as ameaças dos animais com tiros de rifle. Os animais foram perdendo suas vidas por causa da nossa incapacidade de compreender a forma como vivem, e como conviver junto a eles.

Após essa constatação a decisão da reserva foi radical: Guardas do parque nacional foram treinados novamente para proteger os animais, e as armas não foram mais permitidas na reserva.

Estamos destruindo a capacidade das parteiras de ajudar as mulheres em trabalho de parto e nascimento através do óbvio uso excessivo da arma da cesariana? Quantas mulheres e bebês ainda vamos recusar o direito de passar pelo processo mágico, transformador e natural do parto por causa de nossa ignorância do processo de parir? Estaremos perdendo completamente as nossas habilidades de ajudar mulheres no nascimento de seus filhos por causa do canto sedutor das sereias tecnológicas?

Eu espero que nós estejamos no meio de uma grande revolução, e eu sonho com o dia em que as mulheres não serão mais prejudicadas pelo sistema cego e abusivo que criamos.

Ric Jones - Brazil
ReHuNa