E foi assim que você chegou…!
Era madrugada de sexta para sábado quando eu notei que um líquido incolor escorria por entre minhas pernas toda vez que me levantava ou fazia força. Mas preferi pensar que não era nada demais, e assim eu enganava minha cabeça e a ansiedade não tomaria conta de mim.
No sábado pela manhã eu pedi ao meu marido que me ajudasse a lavar os tapetes da sala no quintal. Foi nessa hora que eu comentei com ele sobre o líquido que continuava a escorrer. Nessa hora tive que colocar um absorvente pra conter o “vazamento”, caso contrário eu ficaria toda ensopada em menos de 1h! Era estranho imaginar que talvez fosse a bolsa rompida, estranho porque eu pensava “Mas já??????”. Então resolvemos ligar para o GO.
- Alô, Dr, é a Michelle. Acho que minha bolsa rompeu apesar de estar vazando de pouquinho em pouquinho.
- Oi Michelle… então vai pro Hospital Evangélico (HE) fazer uma avaliação, porque eu não estou em Londrina, estou em Curitiba.
- HEIN?!
- Fique tranquila, vou ligar pro HE avisando que você tá indo pra lá.
Depois do choque (choque porque pensei “como assim que ele tá em Curitiba?????!!!!! – como se médicos não tivessem vida própria, né?) eu resolvi que só iria ao hospital depois de terminar de lavar os tapetes. É claro que eu já tinha avisado minha doula (Marília), por sms. Aliás, a doula oficial também estava viajando! Na verdade ela estava voltando de viagem, mas só chegaria a noite. Daí avisei a outra doula (Lorena) também! Afinal… como assim parir sem ninguém?!??! É muito abandono!
Fomos ao HE. Eu e meu marido armados até os dentes, afinal, eu não queria ser internada naquele hospital (eu já tinha me planejado pra ter o neném em outro hospital, Araucária). Sem falar que como estávamos sem doula e sem o GO, me senti completamente desprotegida. Ao ser encaminhada para a maternidade avisto um rosto familiar entre as enfermeiras. Na mesma hora meu coração sossegou e respirei aliviada.
Eu só disse assim pra enfermeira chefe: “Oi fulana! Eu sou Michelle, do Gesta!” E ela abriu um sorriso e depois tudo ficou mais fácil. Parecia um código, sabe? E começamos a falar a mesma lingua: parto humanizado. Ela foi extremamente gentil durante o exame e manteve meu GO – por telefone – a par de tudo o que estava acontecendo. Aquilo tudo me deixou muito mais tranquila. Resumo do exame: eu estava com bolsa rota, colo do útero amolecido, nenhuma dilatação e contrações de Braxton Hicks apenas. Fiz um ultrassom pra ver se estava perdendo líquido amniótico (negativo), e o neném estava ótimo! Ou seja, tudo perfeito pra voltar pra casa e ficar lá, de molho. E foi o que o obstetra substituto fez, me liberou.
Mortos de fome, eu e meu marido fomos almoçar no Habbib’s. Foi então que percebi que eu estava ensopada, e em todo lugar que eu sentava, eu deixava um ‘carimbo’. Foi desagradável, mas pelo menos almoçamos (esfirras e beirute), e voltamos pra casa. Tomei um banho, me troquei e fui me deitar no sofá da sala pra tirar uma soneca.
Durante a soneca eu percebi que as contrações que antes eram na parte de cima da barriga, foram para a parte de baixo, e passei a ter cólicas levemente incômodas. Fingi naturalidade e deixei o sábado rolar, mas daí pedi ao meu marido que anotasse o tempo das contrações pra gente ter noção do que estava realmente acontecendo. Ao me deitar pra dormir (umas 22h) as cólicas estavam um pouco mais fortes, porém à meia noite e meia eu acordei com uma cólica absurda! Corri para o banheiro pensando na possibilidade de evacuar e aliviar a dor. Ledo engano!!!! Ao me sentar no vaso notei que o tampão tinha saído, e agora eu tinha contrações mais intensas. O Anderson estava acordado, e lá pela 1 e pouco da manhã eu chamei ele e disse:
“Marido, o bicho tá pegando!”
Liguei para a doula e mandei uma mensagem para o celular do GO que estava em Curitiba. Me vesti e entrei no carro me concentrando nas contrações e seus intervalos refrescantes.
Chegamos no Hospital Araucária às 2 e pouco da manhã. Fomos recebidos pela Marilia e toda sua parafernália. Na recepção o ambiente era calmo e vazio (ufa!), e logo o atendente mandou trazer uma cadeira de rodas (??). A enfermeira ouviu “Obrigada, mas prefiro andar. Sacumé, ajuda pro parto!”. Não posso deixar de relatar que tanto o atendente quanto a enfermeira ficaram levemente chocados com a rejeição da cadeira de rodas e com a notícia de que era pra ser parto normal.
A enfermeira (novinha, com cara de recém formada), me examinou e disse “4cm de dilatação”. Eu e a Marilia vibramos (nessa hora meu marido estava ajeitando a papelada da internação).
Assim que tudo estava acertado fomos para o apartamento (enfermaria). O quarto era só nosso! \o/
Avisamos a enfermeira que seria parto natural. Ela ainda não estava acreditando. Eu achei o máximo a cara dela ao ver a banqueta de parto e o nosso bom humor – mesmo com contrações, dor, e afins. Logo fui sentando na banquetinha, e as contrações pareciam aumentar, mas eu deixava ela ir e vir, e fazer o papel dela: trazer meu neném.
Em certo momento as enfermeiras vieram com a maca para me levar para o centro cirúrgico. Daí começou o fuzuê!
Dissemos que eu não iria pra CC nenhum, que eu teria o neném no quarto. As enfermeiras acharam aquilo um absurdo e disseram que era contra as regras do hospital. Só sossegaram depois que informamos que isso tinha sido combinado com o GO ausente (mas que tem moral lá) e com o Pediatra, e que eu não ia sair dali!! A contra gosto elas trouxeram os equipamentos para o quarto e várias outras vezes elas reapareciam lá no quarto para averiguar o que tava rolando.
Lá no Araucária um outro obstetra me atendeu (também enviado pelo meu GO ausente). Esse médico parecia ser super gente boa, já tínhamos ouvido sobre ele. Mas nem tudo são flores, né?! Ele me examinou e disse: “4 cm só! Esse neném só vai nascer pela manhã!”. Eu pensei: “4 cm??? wtf!!!! Acho que ele errou, hein?”, mas fiquei na minha. Foi então que o simpático médico japonês puxou uma conversa nada legal:
- Eu sugiro fazer um enema (lavagem intestinal) para evitar infecção (??), e também uma analgesia. Afinal, pra que sentir dor, uh?
Eu: – Não quero fazer enema.
Marilia: – Não se faz mais enema!!!! –> neste momento o médico ignorava completamente a doula, e chegava a ser engraçado.
Anderson: – Não vai fazer a lavagem, e nem aplicar analgesia. Ela não quer!
Médico: – Ela que tem que decidir.
Eu: – Eu não quero nem um, nem outro.
Médico: – Vou deixar você pensar! (e ficou parado, na minha frente, esperando eu responder)
Eu: – Não vou responder agora, vou pensar (blefe!!!) e depois respondo. (na verdade eu queria dizer: SOME DAQUI COM SEU ENEMA E ANALGESIA!).
E então ele saiu da sala pra eu “pensar” (ha ha ha).
Nesse momento eu estava tendo contrações e sentia os puxos. Eram intensos, e como eu estava deitada na cama (o médico tinha pedido pra eu deitar pra me examinar), eu via minha barriga se mexer assustadoramente a cada contração. Certo momento tomei coragem de me levantar e pedi pra ir pro chuveiro. No começo fiquei na banqueta com a água do chuveiro batendo na lombar, mas depois preferi ficar em pé, com os quadris para trás, me apoiando na barra de ferro e no Anderson. Essa posição era ótima! Porque quando os puxos vinham, eu ficava à vontade para agachar (eu sentia vontade de agachar todas as vezes).
A sensação que eu tinha era que minha lombar ia se rasgar a qualquer momento. O Anderson e a Marilia faziam massagem na lombar e eu tentava relaxar. Teve uma hora que a dor parecia insuportável. Até pensei em pedir a analgesia tão insistida pelo médico, mas a Marilia não deixou. Ela disse “Esse é o máximo de dor que você vai sentir! Não vai passar disso!”. Ouvir isso foi um alívio…
Pouco tempo depois os puxos ficaram mais próximos, e em um deles eu tive a sensação de que a cabeça do neném estava dentro do canal vaginal. Foi num segundo puxo que a sensação ficou mais nítida. Eu estava em pé apoiada no Anderson, só nós dois no banheiro. Nessa hora eu resolvi por a mão para sentir o que estava acontecendo, porque eu tinha certeza que o neném estava coroando. E BINGO, senti a cabecinha do neném querendo sair! Chamei a Marilia e a enfermeira dizendo “- Gente! Tá coroando! O que eu faço!?”. A enfermeira estava incrédula e animada (primeiro parto natureba que ela presenciava), e se certificou que estava coroando mesmo. E foi chamar os médicos (o GO e o pediatra).
O médico pediu para que eu me deitasse na cama. Me deitei, mas eu achei que seria só pra ele me examinar, sei lá. Quando eu disse que queria ter o neném na banqueta, ele riu e disse que isso não era possível. Então eu sugeri: “E em pé, posso???”, e ouvi a mesma resposta. Nessa hora eu percebi que essas posições alternativas não estavam dentro da rotina dele, e preferi ceder (a Marilia não gostou muito, mas depois concordou comigo que isso era demais para o Dr. Enema). Ele me queria completamente deitada, e eu disse que assim não dava, tinha que ser o mais inclinada possível. Ele concordou, e nessa hora a Marilia pegou o controle da cama e foi subindo, subindo, e o médico pedindo pra parar, e ela se fez de morta e subiu um pouco mais.
Confesso que estava até engraçado ver a disputa entre o médico e nós três (acho que era quatro, porque o Pediatra é do nosso time também! Mas ele só ficava assistindo, ria, e não tomava partido).
O médico começou a mexer em pinças, tesouras e outros instrumentos cirúrgicos, e perguntei pra que aquilo tudo. Antes que ele respondesse eu disse: “Nada de episiotomia!”, e ele disse que se fosse necessário ele faria. E bati firme “Nada de episio, deixa lacerar, eu não ligo!!!”. Depois ele veio com um lero lero de que talvez fosse necessário deslocar o ombro do neném pra passar, e novamente eu retruquei “Não vai precisar de nada disso, você vai ver!”. E sempre que eu retrucava o Anderson e a Marilia faziam coro.
Nessa hora as contrações foram embora… o clima foi quebrado… mas eu queria meu neném comigo, e me concentrei. Fiz força. Pedi, por gentileza, que fechassem a porta do quarto porque eu queria gritar. E isso foi motivo de riso, e disseram: “Onde já se viu pedir licença pra gritar no parto?”
E eu gritei!
Ai como gritar é bom nessa hora! Eu sentia a cabeça do neném saindo e aquilo parecia fogo. Eu gritava: “Tá queimando!”, e dizia palavrões em inglês (segundo a Marilia). E logo ouvi o médico: “Já foi metade da cabeça. Faz mais uma força pra acabar!”. E foi assim… mais uma força e a cabeça saiu, e o corpinho escorregou pra fora. Nessa hora todo mundo parou pra olhar a genitália do neném. “É menino!” “Benjamin!”. E acabou o mistério do sexo do neném! hAUheuahuehauheuhae
Era 4:50 da manhã.
Peguei meu filho entre minhas pernas, ligados pelo cordão umbilical, e puxei para meu peito. Tão lindo, perfeitinho! Nasceu limpinho, de olhos abertos. E eu agradecia o Pediatra por ter ficado lá (ele disse que se desse 7h da manhã e nada do neném, ele teria que sair para o plantão no HU). O Anderson cortou o cordão depois que ele parou de pulsar. O Pediatra não fez nada no neném, só secou o cabelinho e enrolou em um lençol, arrumou o umbigo e deu a nota do apgar (1o).
Benjamin: 50,5 cm e 3,290 kg.
Como Deus é maravilhoso! (eu pensava)
Depois fiquei namorando o Benjamin enquanto o médico dava os pontos na laceração do períneo (foi pouca coisa).
Quando tudo acabou e toda a equipe médica saiu do quarto eu só queria duas coisas: comer e descansar.
A Marilia ficou esperando o marido dela vir busca-la, eu tomei um banho, e o Anderson ficou o tempo todo contemplando nosso neném.
Depois nós 3 ficamos lá no quarto, sozinhos, dormindo. Afinal, a madrugada foi animada lá! x:D
Alguns pontos importantes nesse dia:
1. Nós ‘catequisamos’ a enfermeira naquela noite. Mostramos pra ela que o parto normal/natural/humanizado é possível e não é um bicho de sete cabeças. Ela ficou muito animada e feliz por ter participado de todo o parto e por termos sido tão tranquilos com ela (na noite anterior uma outra gestante, que teve parto normal, quase matou a equipe médica, e ela estava traumatizada).
2. O trabalho de parto, ao todo, durou menos de 4:30. E o trabalho de parto ativo, menos de 2h.
3. A presença da doula foi fundamental!
4. A presença e participação ativa do meu marido foi maravilhosa. Sem ele seria impossível! Te amo forever!
5. Depois do parto me senti a mulher mais mulher desse mundo! x:)))))
6. O médico errou, o neném não nasceu depois do sol! o/
Michelle.