sábado, 8 de março de 2014

Relato de Parto da Carolina Barbirato - Nascimento do Yuri

O MEU PARTO FOI ASSIM..


...40 semanas e 6 dias.. Era sábado pela manhã quando fui acordada pelo líquido da bolsa molhando minha calcinha...

Calmamente acordei o Victor e disse que achava que a bolsa tinha rompido, ele acordou num pequeno pulo e os olhos arregalados. Levantei, fui ao banheiro trocar a calcinha e colocar um absorvente. Lembro de dizer para o Victor.. “E aí, tá preparado pra ser pai?”...

Liguei para a minha doula e para o meu obstetra D. Galletto que me orientou a ir para a Maternidade fazer uma avaliação. Como não estava sentindo absolutamente nada e o líquido que saía era pouco tomei um banho, me troquei calmamente e resolvi ligar para a minha mãe. Estava meio relutante em avisá-la pois sabia que ela ia ficar nervosa, mas enfim, resolvi avisar mesmo assim. Ela tentou segurar a onda mas acabou começando a chorar no telefone e eu, a grávida com a bolsa rompida, tive que pedir pra ela ficar calma.

Cheguei na Maternidade por volta das 11:30 da manhã e constataram que estava mesmo com Bolsa Rota, a médica queria me internar mas eu disse que iria para a minha casa esperar pelo Trabalho de Parto e mesmo contra a vontade dela fui embora. Antes de sair ela me disse: “Se dentro de 18h você não ganhar esse bebê você tem que voltar para tomar antibiótico pois o risco de infecção aumenta muito”... maldita hora que ela disse isso!!!

Saímos da Maternidade e fomos almoçar, no caminho atualizei minha doula e minha mãe que estava voltando para casa. Liguei para as amigas mais próximas Gabi e Mari avisando que o Yuri resolveu finalmente nascer. Depois de sairmos do restaurante ainda passei no mercado para comprar algumas coisinhas e finalmente fui pra casa.

Quando saí do carro uma boa quantidade de líquido escorria pelas minhas pernas, subi rápido pro apartamento e me enfiei no chuveiro. Minha mãe e minha irmã estavam em casa, pois eu havia pedido que minha mãe desse um jeitinho no ap pra chegada do Yuri. Nesse momento eu nem imaginava que nada do que eu havia planejado iria acontecer...

Descansei um pouco durante a tarde, ansiosa por uma contração, uma dorzinha... qualquer coisa. Passamos o sábado inteiro e nada acontecia, fiquei fazendo alguns exercícios na bola, subi e desci as escadas do meu prédio inteiro umas 3 vezes, tomei o chá da doula, andei de um lado para o outro... fiz de um tudo mas, além do líquido, nada indicava que o Yuri queria mesmo nascer. Durante a noite comecei a ficar mais nervosa e a frase da médica não saía da minha cabeça “18h horas de bolsa rota e você tem que voltar”... putz.. o tempo ia passando, passando, passando.. e NADA...

Pra ajudar o meu querido marido teve um surto de sono e capotou, nada conseguia acordá-lo... Fiquei “de cara” me perguntando como ele conseguia dormir naquela situação!! Durante a madrugada fiquei conversando com a minha doula pelo face e tentando em vão dormir um pouco.  Minhas 18h acabavam as 03:30... e por volta das 03:00 uma tempestade daquelas começou a cair, um vento absurdo e falta de energia. Resolvemos começar a nos arrumar, pegar as bolsas e toda a tralha pra irmos pra Maternidade...

Esperamos a chuva passar e fomos para a Maternidade. Como eu imaginava tive que ficar internada para tomar o antibiótico. Começava ali o início de um dia exaustivo e de muita tensão.

As más notícias começaram logo que fui internada. A enfermeira chefe de plantão proibiu a entrada da minha doula. Disse que se o pai saísse não poderia mais entrar. Ia por água abaixo, pelo menos por enquanto, a nossa ideia de revezamento marido-doula e se iniciava a minha primeira crise de choro.

Depois disso um médico muito “simpático” veio me examinar e disse com todas as letras que eu provavelmente iria para uma cesária pois estava com o colo do útero totalmente desfavorável e com 1cm de dilatação. Respondi com toda autoridade que não iria para cesárea nenhuma e que iria esperar. Assim que ele virou as costas, minha autoridade deu lugar a minha insegurança e iniciei a minha segunda crise de choro.

Falava com a minha doula pelo telefone e estávamos ansiosas para que o plantão da enfermeira-chefe malvada acabasse para tentarmos uma conversa amigável com a próxima.

As horas iam passando devagar... o cenário não era dos mais agradáveis...

Junto comigo no quarto-enfermaria tinham mais 2 meninas. Uma  delas estava totalmente descompensada de dor e gritava muito... quando eu digo muito é muito mesmo. Ela chorava, pedia socorro, dizia que estava morrendo, que o bebê dela estava morrendo, pedia “pelamordedeus” que aquilo acabasse, enfim, tava desesperada. A outra garota chorava um pouco durante as contrações e brigava com todo mundo porque ela tinha que ir para uma cesárea, mesmo sem nenhuma indicação de que aquilo fosse necessário.
Bem, e eu... Eu estava sem sentir absolutamente NADA... nem uma dorzinha, morrendo de inveja das duas meninas e me perguntando porque elas não estavam felizes por estar em trabalho de parto.

As horas iam se passando, tive mais umas crises de choro e insegurança... me via cada vez mais longe do  parto normal, e cada vez mais perto do centro cirúrgico. O meu parto humanizado e tão sonhado, com o passar do tempo, estava cada vez mais longe.
Durante todo esse tempo eu só não fiquei de ponta cabeça porque isso não ajudaria em nada, mas de resto eu tentei de tudo... Andava pelos corredores, fazia exercícios na bola, ficava no cavalinho, fazia a técnica do rebozo... e NADA...

As 16h do domingo decidimos em conjunto (eu, marido, doula, médica, enfermeira obstetra) que era necessário fazer alguma coisa para ativar o trabalho de parto e foi então que tudo começou a mudar. Nesse momento eu vi que as vezes as intervenções médicas são necessárias, e o quanto foi bom eu ter me informado durante a minha gravidez. Decidimos colocar o comprimido de misoprostol no colo do útero para ver se as contrações e o trabalho de parto se iniciavam logo de uma vez!!!

Nesse meio tempo meu marido foi dispensado, minha doula entrou em ação, conseguimos um quarto só nosso e tudo começou a fluir...

As 20h eu sentia a primeira dor do meu trabalho de parto. Não conseguia tirar o sorriso de satisfação do rosto, finalmente estava começando a acontecer, eu iria conseguir, tudo daria certo.

Liguei toda feliz para o meu marido e para minha mãe... Eu sabia que agora era só uma questão de tempo e eu teria meu filhos nos braços!!!

Mal sabia eu o que ainda estava por vir!! Mas vamos por partes...hauhauhauha

Estava tudo correndo as mil maravilhas, estávamos felizes eu e a doula. Andávamos pelos corredores, tentava ficar o mais ativa possível e logo as contrações começaram a vir mais fortes e em espaços menores de tempo.  Volta e meia aparecia alguém para ouvir o coração do Yuri, medir minha pressão e verificar se tudo estava bem.

Curtia cada contração, respirava fundo e me deixava levar pela dor, sentia as mãos carinhosas da Marília nas minhas costas e isso era muito reconfortante.

Por volta mais ou menos da 01:30 de segunda-feira o bicho começou a pegar. As contrações estavam bem fortes, tão fortes que eu achei que o Yuri já estava nascendo e pedi pra Marília ligar para o Victor. Fiz o coitado sair de casa e ficar na porta da Maternidade... ele iria esperar ainda por um bom tempo!!!

Daí pra frente eu não lembro direito o que aconteceu... Eu perdi totalmente a noção de tempo e espaço. Entrei de corpo e alma na Partolândia. Lembro de falar pra Marília.. “onde eu tô?”... ficava meio sonhando e meio acordada. Pensava muito no Victor, queria muito que ele estivesse ali também. Lembro de ter ligado pra ele, mas não lembro o que eu disse, acho que só queria escutar sua voz, queria que ele dissesse que tudo daria certo.

Doía muito, muito mesmo... E eu comecei a choramingar, nos momentos de quase lucidez dizia pra Marília que queria ir embora, queria ir pra casa, que não ia aguentar, que estava doendo muito... Ela calmamente me dizia que estava acabando, que eu ia aguentar sim, era isso que eu queria e eu não ia desistir. No fundo... bem no fundo do meu subconsciente eu sabia que ela tinha razão... mas eu tava com muita dor pra chegar até tão fundo.. e continuava choramingando.

Não sei exatamente quando e como eu fui parar deitada na cama para um “bendito” médico fazer um exame de toque bem no meio de uma contração. Ele ainda disse que não era pra eu gritar, nem socar a parede (como eu havia feito enquanto ele estava com o dedo LÁ durante a contração), que era aquela dor que iria trazer o bebê e que eu tinha que relaxar!!

Nesse momento eu lembro de ter pensado em duas opções: 

- A primeira era chutar a cara dele, e eu estava bem posicionada pra acertá-lo em cheio, e mandá-lo tomar naquele lugar.

- A segunda era fazer o que ele queria pra ver se ele saía logo da sala e, principalmente, se ele tirava a mão de dentro de mim.

Bem, o meu bom senso me fez optar pela segunda opção. O médico “de”sumanizado  ainda ficou com a mão LÁ por mais uma contração pra confirmar se eu era uma boa menina e não ia fazer mais escândalo. Eu aguentei firme por mais uma vez e fiz exatamente o que ele pediu.

O excelentíssimo disse que eu estava com 5 pra 6 cm de dilatação. Mas eu, a doula e a residente que já havia me examinado antes sabíamos que ele estava errado. O Yuri já estava quase lá!!!

Pouco tempo depois eu comecei a sentir vontade de fazer força. Pedi permissão para minha doula que disse.. “Tá com vontade de fazer força? Então faz!!!”

Depois do maldito exame de toque eu não conseguia levantar de jeito nenhum da maca. Vinha uma contração atrás da outra.. e a vontade de fazer força só aumentava. Eu queria muito me levantar, sabia que aquela posição só ia desfavorecer a descida do Yuri, e que ia ser pior pra mim também. Mas depois de algumas tentativas frustadas acabei ficando deitada mesmo.

A cada contração eu segurava uma das pernas e a Marília segurava a outra e eu fazia força e gritava. Mas não estava dando muito certo. A posição deitada não me deixava fazer a força do jeito certo, eu tava fazendo a força com a garganta e não com o abdômen. Era muito grito pra pouca eficiência.

Depois de mais um tempo a médica do comprimidinho milagroso apareceu pra me examinar e disse que daqui uns 20 minutos voltava para me levar para a mesa de parto. Hein?? Mesa de parto?? A famosa mesa deitada com as pernas para o ar??? Nós ainda tentamos dizer pra ela que queríamos a outra mesa que tem lá na Maternidade que é melhor para posições  verticais, mas ela falou de uma tal manobra de ombro do bebê e blábláblá...

Quando ela virou as costas já estava decidido por mim e pela Marília sem termos que trocar nenhuma palavra. Eu teria o Yuri ali mesmo, não sairia daquela maca por nada no mundo. A Marília fechou a porta, e teve a brilhante ideia de erguer o encosto da cama. Já que eu não conseguia levantar a gente teve que improvisar.

Na posição mais sentada eu comecei a fazer a força do jeito certo  e agora não doía mais. A cada contração eu respirava fundo, segurava a barra de ferro da cabeceira com as duas mãos, fazia força no abdômen e não gritava. Eu sabia que se quisesse ter me filho em paz teria que me esforçar e ser mais rápida.

Depois de pouco tempo ouvi a Marília dizer: “Está coroando, você quer sentir a cabecinha dele?”... No primeiro momento eu exitei, não queria perder o foco das contrações, mas depois eu coloquei a mão e senti os cabelinhos do Yuri. Aquilo me deu um novo fôlego, estava acabando.. estava acabando.. estava acabando...

Nesse momento eu comecei a chamar pelo Victor, não queria que o Yuri nascesse sem a presença do pai. Eu sabia que a Marília queria me proteger ali no quarto, mas sabia também que ela iria me respeitar e chamar o Victor na hora que o Yuri estivesse nascendo.

Me lembro de vê-la saindo pela porta, pouco tempo depois apareceu uma residente de olhos arregalados (ela nunca tinha feito um parto antes) e a Marília dizendo pra ela ficar ali comigo.

Aqui preciso fazer uma pausa pra explicar o que estava acontecendo...

Por obra de Deus e de Nossa Senhora que eu chamei por tantas  e tantas vezes, todas as 4 grávidas internadas estavam dando a luz ao mesmo tempo que eu. Por esse motivo que a médica que iria voltar dentro de 20 minutos não apareceu mais. A equipe toda corria de um lado para o outro pra atender as meninas e como eu tava ali bem quietinha e com a porta fechada fui “esquecida”. Era tudo que eu precisava!!!

Bem.. voltemos ao quarto e ao nascimento do Yuri!!!

A residente de olhos arregalados se posicionou pra receber o Yuri. Ao avistar um médico passando pelo corredor ela tentou chamá-lo mas eu a impedi dizendo que não queria médico nenhum! Ela disse em meio a um sorriso “Você é louca”... eu segurei no braço dela e com os olhos disse que nós faríamos aquilo juntas. Ela entendeu e não falou e nem chamou mais ninguém.

Depois disso só me lembro de ver o Victor entrando pela porta, as luzes sendo acesas sei lá por quem. O Vitor se posicionando ao meu lado e sentir sua mão no meu ombro. Pronto! Agora nosso filho poderia nascer.

Fiz uma força... metade da cabeça...

Mais uma força... cabeça inteira...

Mais uma super força...Yuri

Parir descabela a gente! E emociona...!!!
Abri os olhos e vi meu filho todo melecadinho ali na cama entre as minhas pernas. Não consigo explicar o que senti naquele momento. É como se meu coração tivesse parado. Aquela frase super clichê: “A partir daquele momento o meu coração começava a bater fora do meu peito” descreve mais ou menos o que eu senti.

40 semanas e 7 dias de espera, 3 meses de muitos enjoos, barriga crescendo, noites mal dormidas por causa da barriga, curiosidade, preparação, ansiedade, espera... dores... e finalmente meu filho chegava ao mundo.

Ele era lindo, perfeito. Yuri nasceu de olhos abertos para o mundo. E logo seus olhinhos encontraram os meus. Depois de terem cortado seu cordão (contra a minha vontade, que pedia para colocá-lo logo nos meus braços) eu pude sentir aquele corpinho quente e aquele cheirinho de vida. Eu ainda me lembro do cheiro do meu filho quando nasceu!!!

Abraçada com ele eu olhei pro Victor e pude sentir também a sua emoção. Era o nosso filho, fruto do nosso amor, da nossa história, das nossas escolhas...

E a partir dali seríamos nós três.. a minha FAMÍLIA!!
NÓS...

YURI.. NOSSO PRÍNCIPE!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário