Este relato é muito especial! Demorou para ser feito e merece um post todinho pra ele!
Quem quer conferir a minha versão dos fatos tá aqui ó: O dia em que eu doulei minha doula.
Relato de Parto da Cecilia
Quem conhece minha história sabe que o parto do meu primeiro
filho foi desastroso! Essa palavra pode ser forte para o contexto, mas é a
única palavra que encontro. Meu menino querido nasceu cheio de saúde e
eu....sobrevivi. Desde então, vinha
seguindo acompanhada da mesma pergunta: o que aconteceu de tão errado no parto
do Vicente?eu queria tanto um parto normal, e não foi o que consegui? Porque me
sinto assim? E esse questionamento seguiu na gestação da Cecilia, que veio
seguido de um grande medo. Medo de não conseguir, de novo, lidar comigo mesma,
com minhas emoções, minhas dores, não só as do parto, mas todas as dores que
ficam escancaradas durante o trabalho de parto.Cheguei a pensar em fazer
terapia, marquei uma consulta e lá fui eu. Achei bacana a proposta da
psicóloga, mas no fundo sabia que o processo era tão íntimo e tão meu, que no
fim ia acabar não resolvendo, desisti.
E assim seguiu a gestação da Cecilia. Eu me sentindo tão
feliz por carregar no ventre minha amada filha, mas seguindo sempre angustiada
com essa mesma pergunta: “o que aconteceu?
O que preciso descobrir para que tudo seja diferente? Sim, agora já sei
que a chave de tudo é a respiração, mas será que somente a respiração irá
resgatar toda essa desconexão comigo mesma que eu carrego? Será que a
respiração é a chave de tudo? Ahhhh, duvido!”
Com 37 semanas, meu obstetra pediu para que eu parasse de
tomar a progesterona e depois de 3 dias eis que estava eu deitada no sofá
assistindo novela das 8, quando sinto um líquido sair. Corri para o banheiro e
cheirei a calcinha umas 30 vezes, não tinha cheiro de nada. Voltei para a
novela, novamente um pouco mais de liquido. Hum, vou ligar pra Marilia ( minha
doula fofa). “Má, tem um líquido aqui, será?” Ela me disse: “ Espera pra ver se
sai mais”. Voltei para novela, saiu mais. “É, deve ser então.” Liguei para o
médico e ele disse pra eu ir ao hospital. Então pensei, vou esperar acabar a
novela, tá tão boa! Acabou a novela, fui tomar banho. Arrumei as coisas, fui
até o quartinho da Cecilia, montei um altarzinho, fiz uma oração e fomos, eu e
o Juliano, meu marido, para o hospital.
Meus sogros ficaram com o Vicente, que ficou em casa, todo
ansioso para ter novidades da irmãzinha!
Chegando no hospital, fui avaliada. Como não tinha
contrações ainda, já estava mesmo esperando não ter dilatações. O médico pediu
para que eu ficasse internada por causa da bolsa rota.
Passei a noite toda pensando se dormia ou fazia exercícios
para desencadear o trabalho de parto. Resolvi dormir. Mas não conseguia. Então
alternava deitada e sentada, meditando. No meio da noite não aguentava mais as
enfermeiras me perguntando se eu estava com muita dor. Era o que eu mais queria
estar sentindo, e não estava, minhas contrações estavam ainda super fraquinhas
e irregulares, e tinha que ficar afirmando toda hora isso para elas. Foi
difícil.Mandei uma mensagem pra Marília lá pelas 4, estava precisando de um
colo...hehehehe. Ainda bem que ela não viu, era só o que faltava ter que ir ao
hospital aquela hora! Hahahaha, só eu mesmo!!!!
No outro dia cedo, acordei disposta, as enfermeiras quase já
não entravam mais no quarto a pedido do meu médico. Então fazia exercícios,
andava pelos corredores, subia e descia escadas....mas naaada. À tarde, naaada.
Então chegou perto das 3 da tarde, eu acho, pedi para ficar sozinha no quarto.
O Ju e a Marília saíram. Liguei umas músicas da Enya, que tinha no computador,
e entrei nelas. Foi uma viagem. Que delicioso. Não via mais nada, e não tinha
mais vergonha de ninguém.Não me importava se vissem eu dançando ou o que fosse,
estava eu e ela, nos harmonizando para receber o que estava por vir. Foi então
que as contrações deram o ar das graças! E aconteceu tudo como tinha mesmo que
acontecer. Demorou tanto para virem as contrações efetivas, que quando realmente
vieram eu me amarrei completamente nelas! Elas anunciavam que estavam chegando
e eu pensava: “ oba, que delícia”! E então eu dançava feliz junto com elas,
celebrando a descida da minha pequena a esse novo mundo! E entre um vislumbre e
outro minha memória ancestral foi acessada, e me via dançando, tantas vezes
grávida, e essa, mais uma vez, para guardar na lembrança. Me lembrava o quanto,
antes, eu era mais conectada com a minha verdadeira essência, com a natureza
pura das coisas, com a lua, com o ciclo natural de todas as coisas viventes, e
naturalmente trazia essa doce lembrança para aquele momento. Tão simples, e
descobri....que era isso que me faltou no parto do Vicente. Me faltou a
lembrança de quem eu sou, como essência feminina, criadora e capaz de dar a
luz, como é capaz uma árvore, de dar seus frutos a essa Terra.
Entre as reboladas na bola, as danças e as chuveiradas o
tempo foi passando, na companhia que me bastava naquele momento, meu Ju
querido, amado marido, que me dava o afago que eu precisava, na hora certa, e a
minha amiga querida...e doula ( afinal, isso é só um detalhe hehehe), que me
entedia quando eu esbravejava um “pqp”, ou “ essa mulherada é tudo doida de
querer parto natural”!!!! kkkkkkkkkk! riamos eu e a Marília, de forma
confidente,sabendo bem do que eu estava falando naquela hora.
Até que chegou o momento que eu ainda não conhecia, a fase
de transição e de expulsão. Pois o parto do Vicente eu cheguei até um pouco
antes da fase de transição e acabei
pedindo analgesia. Era essa fase que eu esperava, que eu tinha curiosidade, mas
devo confessar, bastante medo também. E ela foi anunciada por um “ploc”. Então
é isso que acontece quando a bolsa realmente estoura!”Ploc”!!! Fui pisando em terreno desconhecido nesse
momento. Senti-me inundada por um calafrio e tremor. Acho que é essa a sensação
que deve dar quando alguém está prestes a desencarnar. Chamei a Marília: “Má do
céu, estou na transição!” Então a Marília ligou para o médico, que havia
acabado de sair do hospital, que deu meia volta e voltou. Depois disso foi
muito rápido.
Lembro-me que a Marília, meio preocupada, pediu para que
deitasse na postura da criança, para atrasar um pouquinho e dar tempo do médico
chegar. Então olhei para o quarto, e todas as pessoas estavam meio preocupadas.
No total 2 ou 3 enfermerias, o Juliano e a Marília.Então fui me preocupando
tbem. Affff, cadê esse médico!Pensando
bem seria tão bom se eu não tivesse me preocupado com isso e tivesse simplesmente deixado rolar.....Mas enfim,
Galletto chegou para o meu alívio momentâneo, me convidou a ficar semi deitada
( porque eu aceitei hein? Medo?)e lá fui eu. Essa parte eu me atrapalhei um
pouco. Talvez porque essa era a novidade, não conhecia essa parte.
Mas mesmo
não sendo como imaginei, em 3 forças a Cecilia escorregou para a cama e lembro
que vi sua coxinha grossa e pensei: que fofa! Então a peguei para mim! O
Juliano cortou o cordão um umbilical, estava feito, a Cecilia agora era ela, um
pouco eu, cuidando dela, e ela em mim, mas era ela.
27 horas de bolsa rota parcial. 4 horas de trabalho de parto
ativo. Nasceu naturalmente, no quarto do Hospital Evangélico. Veio com a benção
de São João, no dia 24 de junho.
BjoS!
Muito lindo :')
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