A Flávia é de Brasília eu a conheci pelo twitter faz mais ou menos uns 2 ou 3 anos, não sei bem ao certo. Depois de um tempo tivemos a oportunidade de nos conhecermos pessoalmente em um jantar entre amigas (do twitter hehe) que fomos quando passamos alguns dias de férias em Brasília.
Foi maravilhoso conversar com ela! Ela já tinha tido uma bebê de parto natural hospitalar e eu lembro bem ela falando que queria sim outro filho, mas dessa vez ela teria o bebê em casa :).
Ela engravidou e estava preparada para um parto domiciliar, com uma equipe de enfermeiras obstétricas e doula. Mas ela teve uma surpresa! Leiam o relato e se emocionem, porque eu me emocionei muito!!!
Manhã de uma quarta-feira, eu com 39 semanas e 5 dias de
gestação, acordei às 8h e pouco... Por volta de 8:30h, após uma passadinha no
banheiro, liguei para a parteira informando, numa ligação calma e eu falando
baixo pra não acordar minha filhotinha (1 ano e 10 meses), que havia sinal de
sangue na calcinha, mas ainda nenhum sintoma. Enviei em seguida (às 08:50h) uma
mensagem à doula, escrita o seguinte: “Bom dia! Calma, ainda não estou sentindo
nada, rs! Mas hj algo dentro de mim acordou diferente! Talvez seja hj o parto,
durante o dia eh mais tranquilo vc voltar na hora que eu avisar pra valer, ne?
Hehe! Tive o tal sinal de sangue! Ou seja, dilatando estou... Vou observar e
volto a te avisar! Beijoss!!”. - - pausa: no primeiro parto, o sinal que tive
também foi de sangue, sem sintomas, e entre esse primeiro sinal e o expulsivo,
um intervalo de 6 horas (a equipe já conhecia essa história de ter sido sem
sintomas). despausa - - Então me
troquei, penteei o cabelo, fiz toda a rotina matutina e resolvi voltar pra
cama, pensando: vai que esse trem evolui no fim do dia e entra madrugada a
dentro, melhor tentar descansar até minha filhinha acordar (pensei que esse
parto, totalmente natural, poderia ser mais demorado, pois no primeiro parto
tive ocitocina sintética). Voltei para a
cama, sentei na beiradinha, e veio uma emoção de repente (um frio na barriga
que meu bebê dava o primeiro sinal que estava chegando) que durou meio segundo,
pois logo controlei (até parece que eu já senti que precisaria assumir o
controle da situação sozinha), deitei ao lado da minha filha. Mas não consegui
dormir de novo! Começaram a vir cólicas (achei também que poderiam ser
intestinais, não era nada nítido ainda) que começavam e paravam, então associei
com contração; mas não sentia a contração em si, reparei bem na barriga e ela
não ficava com formato de contração nem dura! As cólicas vinham e iam, mas sem
regularidade, entre 8min e 10min, até 15min. E então ficou desconfortável ficar
deitada e levantei!
Enviei outra
mensagem à doula, que tinha me mandado uma mensagem pedindo pra avisar quando
eu começasse a sentir cólica ou dor lombar, e disse que estava com cólicas que
intensificavam e paravam, e que tinha combinado com a parteira pra ela vir
depois do almoço me ver... eram quase 10h... Minha filha acordou e, ao pegá-la
da cama no colo: plaft, minha calcinha e short molharam! Pensei “é a bolsa”,
mas pensava que tivesse sido uma ruptura parcial, pois não chegou a molhar
minha perna, muito menos o chão! Então deitei minha filha no trocador e a
arrumei como de costume... Meu pai estava chagando em casa da corrida, fui até
a beira da escada com minha filha no colo e o chamei pra ajudar com uma
cortina, conversei brevemente sobre a ajuda que queria. Enquanto ele não vinha,
sentei e amamentei minha filha, oferecendo seu desjejum! Em seguida ele veio ao
meu quarto e começamos medir no teto, a cortar o tecido, eu subi num banquinho
pra ajudá-lo a pendurar a cortina... Minha mãe veio ao meu quarto e perguntou
se estava tudo bem, eu disse que sim... meu pai saiu do quarto e desceu pra
buscar materiais, voltou e terminou de prender a cortina.. eu fui terminando de
pentear filhotinha e arrumar a cama (meu pai ajudou a terminar de puxar o
edredom e saiu do quarto)!
Nesse momento a coisa começou a mudar de figura! Comecei a
sentir contrações mesmo (não apenas só cólica que já estava incomodando,
desconcentrando de outras atividades), comecei a não apenas dar pausa na fala e
respirar, comecei a agachar durante a contração! Fui até a sala pegar o
telefone fixo, e ali comecei a perder o senso muito racional, não queria mais
estar tentando fazer outras coisas, queria me conectar com meu corpo, minhas
contrações, mas precisava me comunicar, avisar às pessoas, ligar para a parteira,
para a doula, sentia que precisava arrumar o “ninho” pro parto... e a
alternância entre tentar falar ao telefone, pausar pra contração, tentar
digitar mensagem de texto na outra mão, e pausar pra contração, e começar a
ficar aflita pois a coisa estava apertando e eu queria a equipe e queria estar
amparada, e me auto-controlava (pela segunda vez veio um sentimento de frio na
barriga, de querer desesperar, mas durou frações de segundos), e me
auto-doulava (pensava: relaxa os ombros durante a contração, deixa despencar o
maxilar pra ajudar a relaxar o períneo),
e ficava de joelhos no sofá, ou de cócoras no chão, alternando a posição nas
contrações, obedecendo o que meu corpo pedia, e a cada contração cantarolava
pra mim mesma, bem baixinho, sem letra, só um som, uma melodia que embalava
nosso momento – meu, do meu bebê que estava prestes a nascer e da minha filha,
que observava silenciosamente cada movimento meu, e com uma cumplicidade no
olhar, me abraçava pelas costas a cada vez que eu agachava no chão, a cada
contração, tornando meu TP no momento mais lindo de se viver!
E ao conseguir falar com a parteira, e enviar a mensagem à doula
(às 10:30h: “to tentando te ligar.. a coisa apertou aqui! A parteira ta vindo
me ver agora!”), voltei ao quarto! E fiquei ali, aguardando que chegassem.. Marido
ligou, eu já tinha conversado mais cedo com ele que tínhamos sinais de parto
naquele dia, mas tinha pedido que fosse ao shopping ainda comprar um leitor de
cartão pra mim e buscar o resultado de um exame.. Mas antes de ir, me ligou nesse
momento e eu só numa frase: “vem pra cá que apertou!” Era tudo que dava tempo
de dizer no intervalo de contração, rs!
Continuava a cantarolar serenamente, suavemente, bem baixinho,
continuava a procurar o chão a cada contração, já ficava de joelhos e cotovelos
apoiados no chão, continuava a suavemente balançar o quadril na minha música,
com o carinho da minha filhinha sempre ali!
Marido chegou em 3 minutos e me viu no quarto nessa posição,
quase de sapinho no chão, me deu um beijo na cabeça! Eu disse a ele “puxa a
lona e enche a banheira”! - - pausa: já tínhamos pré-preparado o cenário para o
parto. O plano inicial era parir na água, então já tinha uma piscina inflada no
meu quarto, apoiada em pé na parede; tínhamos cortado uma lona plástica no
tamanho da área da piscina também, pra não molhar o piso de madeira, e enrolado
no jeito só pra puxar a lona e deitar a piscina; a mangueirinha no chuveiro já
instalada com a distância pra chegar à piscina! Ou seja, era só encher de água!
Despausa - - (Nesse meio tempo, meu pai
voltou ao quarto, sei lá porque, acho que pra ver se tinha acontecido alguma
coisa, imagino que ele tenha notado meu marido chegando apressado, pois meu pai
estava lá fora quando ele chegou.) Assim que terminou a contração em seguida a
essa frase, eu disse “peraí, vou ao banheiro!” e num pulo saí da posição de
sapinho no chão do quarto pra dentro do banheiro!
Sentei no vaso já pensando
“ai meu Deus, sei que essa sensação é mininu saindo, porque espreme o reto” mas
pensei simultaneamente “puxa, eu já estava com vontade de ir ao banheiro
cedinho, eu vou conseguir fazer antes de parir” (afinal, ninguém da equipe
tinha chegado ainda, não podia estar acontecendo ainda, rs)! E assim, relaxei
os esfíncteres...por 1 segundo e já travei de novo! “O-oh, é ele nascendo mesmo”,
constatei, e pensei “tenho é que sair daqui, meu filho não vai nascer na
privada!!!!”! Sim, todos esses pensamentos em meio segundo! Pela terceira vez
no dia, quis subir um desespero em mim, soltei a frase: “ajuda aqui que ta
nascendo!!!” e vi num pulo só meu pai e meu marido se materializarem dentro do
banheiro, com cara de “HÃ?!?!?!?!”! Então botei a mão, e percebi o canal de
parto dilatado (ou seja, a cabeça já estava ali), deixei o short terminar de
cair pela perna e agachei de cócoras no chão, no passo mais largo que consegui
dar pra longe do vaso!
À partir dali, tudo ficou tão mais sereno ainda, tão seguro,
tão aconchegante, tão despreocupado! Era essa a sensação em mim! Vi meu pai e meu
marido sem saberem o que fazer, meu pai perguntando “o que eu faço?”, “pego uma
toalha?” “onde posso pegar uma?” e o marido pegando meu celular, ligando para a
parteira... e se eu tivesse condições de falar, queria explicar calmamente a
eles que não havia mais o que ser feito, que não tinham com o que se preocupar,
que estava tudo bem, tudo ótimo, queria pedir para se acalmarem e tentar dar
apoio mostrando que tudo iria dar certo, queria explicar tudo isso, mas queria
também curtir meu brevíssimo momento... pensava que queria estar registrando
tudo, filmando, fotografando, pensava principalmente (e sabia) que ali TUDO
dependia de mim, só dependia de mim, do meu autocontrole, que não adiantava eu
surtar e não aproveitar aquele momento sublime, que tudo o que eu sabia ou
tinha aprendido, colocaria em prática, que eu era a pessoa mais apta a agir ali
ou em qualquer intercorrência que houvesse, mas sentindo uma segurança das
entranhas de que nada errado aconteceria (meu corpo me confirmava isso, a
natureza me contava isso, uma força maior e incrível acontecendo, um sentimento
que o Universo está conspirando a favor!)...
e tudo que falei foi “pode pegar essa aí”, olhando pra minha toalha de
banho rosa que estava pendurada no box! Meu pai lançou a toalha no chão!
Eu
sentia com a mão direita a cabeça do meu filho coroando, com o braço esquerdo
eu me apoiava na paredinha que encostei as minhas costas! E na hora senti que
era cabeludo! Lindo! E vim mantendo a mão, tentando amparar meu períneo (com
receio de lacerações), mas a posição era difícil pra me alcançar. Nessa
primeira contração tinha nascido a cabeça, meu marido informa à parteira pelo
telefone “saiu a cabeça!” e ela quase surta do outro lado da linha! Passei a
mão contornando o pescocinho do bebê, procurando por alguma circular de
cordão.. não tinha nada.. Esse intervalo (rapidíssimo) entre uma contração e
outra foi o momento mais Divino, eu tirei a mão dele e apoiei os dois cotovelos
na paredinha, olhei pra cima como se olhasse pro céu, sorri, senti uma
felicidade suprema, e (não lembro se cheguei a verbalizar baixinho ou se só
pensei) disse sorrindo sozinha, tããão serena “vem, vem meu amor, pode vir..”, e
veio uma próxima contração, senti o círculo de fogo e vim sentindo os ombrinhos
passarem, e o corpinho veio saindo, meu pai e meu marido botaram as quatro mãos
embaixo por precaução, com medo que elezinho caísse no chão (mas respeitavam em
não tocar nele, não intervir em nada), e
eu o segurei com as duas mãos (fiquei apoiada só com as costas na perede e os
pés no chão acocorada, ele terminando de sair de mim e eu o trazendo direto pro
meu colo)!
Momento surreal! Tinha simplesmente acontecido! Sem dor, sem grito,
num silêncio tão absoluto, que meu banheiro divide porta com o quarto da minha
avó também (e ela estava no quarto), e ela nem desconfiou que alguma coisa
estava acontecendo, muito menos um parto, rs! E ele veio ao mundo no mesmo
clima, tão sereno, não chorou, apenas olhou pra mim respirando normalmente e eu
o abracei! Minha filhinha, estava na porta do banheiro olhando, e disse “mamãe,
neném!!”. Tem alegria maior? Minha primeira frase, ainda sem mudar de posição
foi (olhando pro marido): “Ah, não! Tira uma foto!” kkkkkk! Eu queria que
queria ter registrado!
E foi isso, isso TUDO em tão pouco tempo do relógio.. às
10:50h já tinha nascido!!! E então pedi gorrinho e paninho pra aquecer o bebê,
dei as coordenadas de onde eu tinha guardado, minha filha pegou uma blusinha
delezinho na gaveta, veio até mim, botou na frente dele e disse: “mamãe, põe
neném” (coisa mais linda ela já cuidando do irmãozinho! Um
cuidado, uma primeira relação linda entre eles, de emocionar e matar de
felicidade e orgulho qualquer mãe!!!)!
Marido ligou para parteira e contou que tinha terminado de
nascer e estava tudo bem! Meus sobrinhos, minha mãe e minha vó vieram ao quarto
e viram que tinha nascido, todos surpresos, mas ninguém tão abismado assim,
todos felizes, e começou a sessão de fotos! Dali pra frente fotos pra chuchu,
rs! Pedi que forrasse a cama com a outra lona plástica e um lençol que eu tinha
separado pra sujar, e migrei do banheiro pra lá pra aguardar a dequitação da
placenta!
Em seguida, a parteira chegou, rindo já, falando “só você
mesmo”, e eu rindo também, me vendo sentada na cama com meu bebê no colo, com o
cordão umbilical pendurado, assimilando ainda que tinha mesmo acontecido! Foi
tudo muito real, não teve nada de surreal, mas foi muito rápido! E o bebê
começou a mamar, o cordão pulsando ainda, eu mesma conferi, e ali ficou
mamando, até dequitar a placenta, e continuou mamando. Depois chegou a doula
também e a parteira clampeou o cordão, marido cortou o cordão! Depois chegou a outra
parteira que também é da equipe e estava a caminho.
Tudo muito bom, tudo muito lindo, fugindo dos planos
iniciais, mas sendo do jeito que a natureza quis, com o universo conspirando a
favor, com o instinto de mamífera aflorando na pele, com o corpo fazendo
perfeitamente o que o corpo feminino foi “construído” pra fazer: parindo!
Naturalmente! Totalmente natural! Sem intervenção, sem toque, sem descolamento
de membrana, sem ruptura artificial da bolsa, sem ocitocinas sintéticas, nem
analgesias ou anestésicos, sem cortes na musculatura do períneo, de modo
totalmente ativo, obedecendo o pedido de cada movimento do corpo, tudo numa
sintonia tão bonita, como uma canção bem harmoniosa, sem nenhum tipo de
medicamento pós parto (nada de Methergin, novalgina, nem paracetamol), nada de
cintas ou soutiens de amamentação recheados com conchas coletoras de leite!
NADA de artifício, nada de artificial, nem antes, nem durante, nem depois do
parto! SÓ a natureza e nada mais agindo! Simplesmente, sabemos parir! A
natureza é linda, perfeita! E o parto, é o mais puro milagre da vida, Divino!
O parto é das mulheres! Acho que não preciso dizer mais nada ;)
BjoS!!!
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ResponderExcluirmaravilhoso! adorei!
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