Dia 14 de Agosto de 2012. Dois
dias apenas de atraso menstrual e uma vontade enorme de estar grávida me
levaram a fazer o teste de gravidez. Positivo! Uma alegria enorme tomou conta
de mim. Marido feliz, primeiro neto vindo pros meus pais, primeiro sobrinho de
duas tias corujas.. E nesse clima de realização passei os 8 meses que se
seguiram. Não tenho absolutamente nada do que reclamar da gravidez. Não enjoei,
dormi bem todas as noites, não senti dor de coluna e João permaneceu a gravidez
toda super bem. Me senti linda, em paz, amada, foi uma sensação sublime a de
estar grávida. Muito mais do que eu podia algum dia ter imaginado. Cuidei do
meu corpo, cuidei do meu espírito, cuidei da minha mente, de tudo que pudesse
pra realmente permitir aquilo que eu vivia ser algo transformador na minha
vida.
Eu quis muito e batalhei muito
pra dar ao meu filho um parto que eu julgasse digno pra ele. Quem me acompanhou
sabe disso. Não pude permitir que o NOSSO momento, meu do João e do Fred, fosse
roubado de NÓS. E pra fechar esse ciclo, eu queria muito que o parto fosse como
sempre sonhamos.
Depois de 40 semanas e um dia de
gestação, a bolsa estourou. Alegria, alegria! Domingo, 21 de abril. Rompeu
enquanto eu dormia. Acordei umas 06:00h, fui ao banheiro, liquido claro, pouca
quantidade. “Eeeeeeeeeee!! Acho que João tá vindo!”. Poucas contrações
inicialmente, e quase nem doíam.
- Amor, amooor (amor dormindo),
acho que a bolsa estourou.
- Tem certeza?
- Não, mas acho que sim. Vou
ligar pra Marília (doula).
No dia anterior eu havia
participado de uma oficina maravilhosa conduzida pela Claudia Rodrigues, sobre
gestação e parto. Como eu já estava com 40 semanas, durante a oficina, a Claudia
fez uns exercícios comigo ensinando como chamar as contrações quando eu
entrasse em trabalho de parto. Tiro e queda. 12 horas depois meu TP começou.
Avisei a Marília que não iria ao
segundo dia de oficina por motivos óbvios. As contrações começaram logo em
seguida, ainda sem ritmo, e não duraram muito tempo. Resolvi descansar, tentar dormir
de novo, porque eu não descartava a possibilidade de um TP longo, sempre achei
que eu deveria estar preparada pra isso. Tanto que imaginei que João só fosse
nascer no outro dia. Pra mim se ele nascesse até meio-dia de segunda eu estava
no lucro. Umas 10:30h as contrações pararam. Liguei pra Lia (parteira), e ela
me passou as orientações. Caminhada, boa alimentação, “14:30h nos falamos de
novo”.Eu e Fred caminhamos pelo condomínio, fomos no mercado, conversamos,
sonhamos, imaginamos, e vivemos, juntos, cada contração que meu útero fazia.
Fred foi muito parceiro! Me apaixonei muito mais por ele a partir desse dia. 14:30h liguei pra ela de novo: “Nada, Lia,
tudo na mesma”. 14:31h veio a primeira
contração. Fred ia anotando tudo, o intervalo e a duração das contrações. E eu
contando jacarés: 1 jacaré, 2 jacaré, 3 jacaré, pra ver a duração de cada
contração.. hahahaha.. No início elas duravam uns 20 jacarés, e vinham a cada 8
ou 9 minutos. Até 16:30h alternamos caminhada e descanso em casa. Nessa hora
elas já duravam um pouco mais, e intervalos um pouco menores. Liguei novamente
pra Lia e ela disse que já estava se preparando para vir, ela e a Cris (enfermeira
neonatal). “Mas já?????” Eu perguntei. Como assim? Eu tava me sentindo tão bem,
as contrações não doíam muito.. como assim eu já estava em trabalho de parto?
Daí pra frente o tempo simplesmente voou. Impressionante como a gente perde a
noção do tempo durante o TP. No início da noite as minhas mulheres queridas chegaram.
Primeiro a Claudia e a Re, doula também, vieram por amizade e foram lindamente
parceiras em todo o processo do parto. Logo depois a Marília, Lia e Cris. Nesse
momento a gente já não contava mais as contrações. Com as meninas aqui
estávamos seguros e prontos pra todo o processo. Consegui ficar na sala com
elas por um tempo, mas as contrações foram ficando mais dolorosas, e pediam pra
que eu me concentrasse mais nelas. Quando as contrações vinham eu fechava os
olhos, sentia aquela onda vindo e indo, e daí eu voltava, embalada por mantras
que tocavam no som. E eu achando que tava tudo sob controle ainda, “isso vai
demoraaaaar” eu pensava. A Claudia sugeriu que eu e Fred fossemos pro quarto.
Mocinha sabida das coisas. Entrei no quarto e mergulhei na partolândia. Passei
a não raciocinar mais a partir desse momento, deixei a sagrada natureza me
guiar. Perdi a noção do tempo, não ouvi quase nada, vi pouca coisa. A
partolândia é um local de sensações, mágicas sensações. A dor começou a apertar
e incomodava mais. Deitei na cama, fiquei na bola, me ajoelhei no chão, e as
contrações vinham e iam. O Fred ficou o tempo todo do meu lado. Ele me lembrava
de respirar corretamente quando a dor vinha, me segurava nos intervalos, sussurrava
amor e força nos meus ouvidos. Não me lembro muito das palavras dele, mas me
lembro perfeitamente de sentir a voz dele dentro de mim. O tempo todo! Num
certo momento ele saiu (depois eu soube que era minha sogra no telefone, ela
nem ninguém da nossa família sabiam do parto, achamos melhor assim) e a Marília
veio fazer massagem em mim. UAUUUU, que massagem! Sentia como se mil mãos me
tocassem nas costas naquele momento. A bolsa rompeu de vez durante a massagem.
Tirei a roupa e fui pro chuveiro.
Dor, intervalo, dor, intervalo,
doooor, intervalo. E o mergulho era cada vez mais profundo. A Marília me
entregou a banqueta de parto, e ficamos ali algum tempo. Não me dei conta em
que momento todas as maravilhosas mulheres já estavam ali no quarto
acompanhando a gente. Vi a Lia no banheiro enquanto eu estava no chuveiro, isso
era sinal que nosso João não demoraria muito. Ela ouviu o BCF do João pra ver
se estava tudo bem, e me avisava que sim, estava, “tá ouvindo? Tá tudo certo,
meu bem.” Lia, santa Lia. Como era bom ouvir a voz dela ali!!! Me senti tão segura com a presença dela. Ondas
cada vez mais dolorosas, mais profundas, e ficar no chuveiro já não estava mais
legal. Então vamos para o quarto. “Posso ir?” Eu perguntava pra Lia. “Claro que
pode”. Ajoelhei no chão e me debrucei sobre a cama. E isso aconteceu algumas
vezes: banheiro, quarto, chão, cama. Me lembro bem de um momento que saí do
banheiro e entrando no quarto veio uma contração daquelas, de literalmente
derrubar. Me pus de cócoras no chão, não rolava ficar em pé. E gemi, com
vontade! Nessa hora eu tive um momento de consciência do que acontecia ao meu
redor. Caramba, que dor!!! “Caralhowwww, isso dói muito!”, eu repeti essa frase
algumas vezes depois disso. BCF do João de novo, tudo certo. Acho que ela fez
isso umas 3 vezes só. Ela me tranquilizava e incentivava a continuar na
entrega.. João estava chegando. Dor mais forte, concentração cada vez mais
difícil. A essa hora meu corpo vinha passando
pelos puxos. No chuveiro, tive consciência deles. Putz, era uma dor rasgada
mesmo. Quis não senti-la mais, quis que tudo acabasse logo. Comecei a pedir pro
João chegar, se ele demorasse parecia que eu não ia aguentar. ”Vem, João, vem,
João!”, pedíamos juntos. Até que.. um
coágulo coroou (pois é!), e a Lia achou que fosse o João. “Aahhh, que bom, ele
tá chegando, ele tá chegando, já está acabando”. Tinha pouca luz ali na hora.
Quando saiu o coágulo eu fiquei muito frustrada!
Voltei pro quarto, pra beira da
cama, na banqueta, e comecei a pedir ajuda. Porra, tinha que existir alguma
coisa que eu pudesse fazer que faria o João nascer e aquela minha dor ser
aliviada, ou então não ia rolar, eu pensava. A Lia me mandava manter a força
quando ela vinha, mas eu não conseguia. A Claudia sugeriu ao Fred que fizesse
cócegas na minha barriga pra aumentar as contrações, ou a duração delas, não sei.
Lia ouviu o BCF mais uma vez e me mostrou a pontinha do mindinho e disse:
“falta isso aqui”. “Vem, João! vem, João!”. A Claudia e a Marília seguravam
meus pés pra que eu mantivesse minhas pernas afastadas. Eu sabia que deveria
mantê-las assim, mas meu corpo era tomado por movimentos involuntários, guiado
por uma força que só quem passou sabe. Mais uma força, movida a muita dor, uma
dor ardida e cócegas (um pouco irritante demais), e a cabeça dele começou a
aparecer! As meninas iam me narrando, e o Fred a essa hora já ria. Era só
manter, eu pensava! A Marília perguntou se eu queria o espelhinho, ou se eu
queria tocar a cabeça dele, mas eu não quis. Fiquei com medo de me frustrar de
novo, “vai que ele não tá tão pra fora quanto estou sentindo”. Mais uma força e
a cabeça dele saiu. “Eu tô vendo, tô vendo”, o Fred falava, todo animado! A Lia
me avisou que o cordão estava enrolado no pescoço, mas que ela já havia
retirado a volta. Estava acabando e eu ia ter meu filho comigo, ia finalmente
ver o rostinho dele! Gritei pedindo pro João vir, e mais uma força bruta veio!
Mais um grito, fooooorça.. até que vi as mãos da Lia pegando meu pequeno e
colocando ele na minha barriga. 00:01h do dia 22 de abril. Eu o peguei, o
toquei, e senti seu cheiro. Que cheiro!!!!! Que cheiro maravilhoso!!!!! Ele
estava com a cabeça caidinha virada pra baixo. Eu o trouxe pra mais perto e
olhei nos olhos dele. Lindo, lindo, lindo, meu filho! O amor nasceu! E nasceu
com aquele cheiro, aquele cheiro que eu desejei sentir pra sempre! Cheiro de
cria é a muitooooo bom!!! Hahahahaha.. Nós 3 ali, juntos, como tantas noites,
em tantas conversas na cama ou no sofá, eu e Fred sonhamos. Eu falava pras
meninas: ele é lindo, é lindo! E agradeci.
No parto do João, nasceu também
um sentimento em mim que eu nunca havia vivenciado naquela intensidade: a
gratidão. Grata, muito grata eu me senti.. Grata a Deus, grata ao João, meu tão
esperado filho, meu pequeno Ser de Luz, por me fazer viver uma gravidez e parto
tão divinos! Grata às meninas, todas elas, por terem acreditado em mim, que eu
ia conseguir. Grata pela fé e pela ajuda
na realização de um sonho da vida! Lia, Cris, Marília, Renata e Claudia, nossos
anjos; sempre e pra sempre minha gratidão e admiração por cada uma!
João não chorou. Veio quietinho e
quentinho pro meu colo. Falei muitas vezes que ele era lindo! Fred cortou o
cordão quando ele parou de pulsar. Como a placenta resolveu dar um showzinho no
final, a Cris levou o João pro quarto dele pra poder fazer os primeiros
cuidados, na companhia do pai. Depois de umas doses de ocitocina, conversas com
a placenta, concentração, rezas de um bando de mulheres, a lembrança da Santa
Margarida que protege as paridas, a placenta saiu. Saiu com a promessa que
seria plantada embaixo de um pé de limão siciliano no nosso jardim. Fiquei bem
fraca depois disso. Mas estava em êxtase, totalmente! Tomei banho e voltei pra
cama. Recebi meu filho de volta, já de roupinha e ainda com aqueeeeele cheiro
viciante. Ele mamou, e eu comi: Pão de queijo, sanduíche de queijo e suco de
uva! Hummmmmmm, delicioso!
E foi com a doçura da Lia, a
calma da Cris, a força da Marília, a sabedoria da Claudia, a sensibilidade da
Renata, o amor do Fred, a benção de Deus e a certeza de que TUDO daria certo
que eu pari meu filho! João nasceu cercado de proteção, respeito e carinho! Bem
ali, no nosso quarto, nosso ninho, nosso lar.
O limoeiro.
Lindo!Emocionante! Parabéns meninas, papai, mamãe!
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