Esse relato é bem especial. Foi toda uma situação inusitada que se tem algo a nos ensinar é: nós não controlamos nada. Podemos fazer planos, mas nem sempre eles serão cumpridos, nem sempre as coisas serão exatamente como queremos e se entregar para o momento sem se importar com a quebra dos nossos próprios "protocolos" é fundamental!
Toda programação e o desejo de ter uma bebê
Londrinense foi em vão, Valentina chegou escolhendo tudo, e decidiu ser
Curitibana.
• Sexta-feira, 23/11/2012
Foi a minha última consulta pré-natal
em Curitiba, estava no segundo dia da 36ª semana de gestação.
Como já conhecia minha GO, imaginei
que ela fosse me examinar com o exame do toque. Se ela não fizesse isso, eu
mesma iria pedir. Pois, uma semana depois dessa consulta, iria para Londrina. E
como iria viajar, queria mesmo ter certeza de como estavam às coisas.
Sai da consulta feliz da vida, com um
sentimento lindo na altura do coração. Acabo de descobrir que já tenho 1 cm de
dilatação.
Sai do consultório e fui pra casa da
maneira que sempre fiz, com ou sem bebezinho. Uma leve caminhada de no mínimo
uns 30 minutos. Próximo de casa, entrei em um supermercado para almoçar e após
o almoço me senti tão cansada que por ali fiquei vendo o movimento da rua e
pensando nessa dilatação por quase uma hora.
Ao chegar em casa fui correndo contar
pra minha doula, que falou: “Venha para Londrina, ela vai nascer de 37
semanas!”
Mas eu não me sentia confortável com
a ideia de ir para Londrina, uma semana antes do programado, e deixar meu
esposo aqui sozinho preocupado. Então resolvi ficar até o dia 30/11, que era a
data da viajem a Londrina.
• Sábado e Domingo, 24 e 25/11/2012
Fim de semana comum. Casa para
arrumar, mercado para fazer, televisão para assistir.
• Segunda-feira, 26/11/2012
Acordei, fui para a acupuntura e ao
sair de lá resolvi comprar uma máquina fotográfica aquática para fotografar a
barriga na água durante a aula de natação. Voltei pra casa de ônibus e não a pé
(milagrosamente), e toda feliz com meu barrigão. Eu já começava a sentir um
peso ao andar, mas até então a única mudança na rotina foi o ônibus.
Cheguei em casa e fui direto arrumar
meus materiais de desenho para levar a Londrina. Peguei uma caixa levemente
pesada, senti uma pressão e pensei: “É, realmente ta na hora de começar a pegar
mais leve. Então à tarde, não irei a pé para a yoga e natação, vou de ônibus”.
(Nossa! como sou uma pessoa sensata)
Assim foi.
Na aula de yoga quase não consegui
fazer as posições, realmente estava muito difícil. Eu jurava que era culpa do
calor. Acabou a aula e fui correndo pra aula de natação, era minha última
semana então queria aproveitar todos os minutos de piscina. Cheguei lá e já me
avisaram que a água (ainda) estava suuuuper gelada, mas como estava com minha
câmera fotográfica na mochila resolvi enfrentar a água fria. Não fiz aula,
apenas fotografei a pança com a ajuda de um amigo (infelizmente nenhumas dessas
fotos deram certo).
No final da aula, me despedi da
professora de natação dizendo: Se eu não vier quarta-feira.... É porque
nasceu!!!!
Cheguei em casa com o cansaço do dia,
mas toda contente e exibida com meu barrigão. Adorava vestir o maiô e me olhar
de perfil no reflexo do espelho.
• Terça-feira, 27/11/2012
03h20min da manhã: Acordo e vou ao banheiro com aquela imensa vontade de
fazer xixi;
03h25min da manha: Deito na cama e sinto que saiu um “xixizinho”
involuntário, e penso: “Não, é coisa da minha cabeça, não é nada!”. Resolvi me
mexer mais uma vez para me certificar e saiu um monte de “xixi” involuntário. Na
cama mesmo eu solto um: “Xiiiiiiiii!!!!”.
Meu esposo que estava acordado me
pergunta o que aconteceu, eu disse que achava que minha bolsa havia rompido,
mas que era melhor continuarmos dormindo, e que o tempo mínimo para iniciar o
trabalho de parto era de aproximadamente 8 horas, e pela manhã resolveríamos o
que fazer.
Então ele disse: “Vamos pelo menos
ter certeza do que aconteceu”. E quando levantei da cama saiu mais líquido e no
colchão já tinha uma mancha de molhado.
Ele foi correndo pra cozinha dizendo:
“Vou fazer um café, não vou mais dormir mesmo”.
E eu resolvi ligar pra minha doula
láááááá em Londrina, que me acalmou. Fiquei nervosa porque não tinha visto nada
do parto em Curitiba, caso isso acontecesse.
(Toda vez que tentei falar sobre o parto
com minha GO aqui em Curitiba, ela sempre dizia que estava cedo para conversar
sobre isso. Então comecei a me envolver com o assunto e conforme o tempo ia
passando fui sentido a vontade cada vez maior de que a bebê fosse Londrinense.
Encontrei uma doula lá na terrinha que me identifiquei e marquei uma consulta
com um GO de sua indicação.)
Então a Marília, minha doula, me
orientou a tomar banho, a relaxar e olhar novamente a cor do líquido. Estava
clarinho, com cheiro Q-boa...
Resolvemos ir para Londrina, já que
teríamos esse tempo de 8 horas. Por volta das 4 horas da manhã estávamos
prontos para pegar estrada. Liguei para minha doula avisando que estávamos de
saída e ela sugeriu que eu entrasse em contato com minha obstetra que
acompanhou o pré-natal para ver se ela gostaria de me examinar e analisar como
estava à situação.
Ao atender ao telefone e contar a ela
o que estava acontecendo, a primeira pergunta que a obstetra fez foi sobre a
taxa de disponibilidade, pois não havíamos conversado a respeito, já que ela
sempre desconversava e ao final da gestação já sabia que meu parto seria em
Londrina.
Nesse momento olhei com cara de
assustada para o Maurício porque não imaginava que ela iria tocar no assunto
nesse momento e respondi a ela que meu parto seria particular, pois meu plano
de saúde não cobra obstetrícia. Então, ela me orientou a voltar a dormir e
ligar novamente por volta das 7 horas da manhã, para ela me orientar sobre como
proceder com as contrações.
Desliguei o telefone e disse ao
Maurício e a minha doula, que caso fosse necessário parir em Curitiba, não
seria essa obstetra quem iria assistir meu parto. E os dois concordaram, claro!
Quem seria louco de ir contra uma mulher em início de trabalho de parto?
05h00min Marília toda preocupada com a situação, começou a
procurar doulas e parteiras para que pudessem nos ajudar. E assim, acordamos a
Adelita, do grupo Parto do Luar, que trabalha com parto domiciliar. Expliquei
por telefone toda a situação, e Adelita nos orientou a ir à maternidade
Curitiba que fica próximo a nossa casa (já tínhamos falado sobre essa possibilidade, mas não
fomos antes porque achamos que talvez, não iríamos conseguir sair da
maternidade. E não queríamos mesmo dar brechas a cesárea) e também nos instruiu contando que
eles não podiam fazer a internação contra a nossa vontade.
05h30min Chegamos à maternidade Curitiba e esperamos,
esperamos, esperamos, para sermos atendidos. Nesse momento comecei a sentir
leves contrações, mas tão leves que eu precisava prestar muita atenção para
sentir, e o que me preocupava era a quantidade de líquido amniótico que perdia.
Eu queria mesmo sair do hospital e pegar estrada pra Londrina, estava achando
toda aquela espera perda de tempo na viagem.
06h10min Por volta desse horário finalmente fomos atendidos na
maternidade. Veio uma enfermeira, me deu um jaleco para vestir e me perguntou
se já era pra fazer a tricotomia. Eu olhei rindo pro Maurício e a cada riso o
líquido amniótico escorria.
Enquanto isso, a enfermeira foi
medindo minha pressão e me perguntou se eu tinha pressão alta. Eu não lembro o
valor, mas a enfermeira falou um valor absurdo. E logo entrou a médica, escutou
o coração da Valentina e faz o exame de toque, onde descobrimos que já estava
com 6 cm de dilatação. A médica sugeriu a internação e então nós “fugimos” do
hospital.
06h40min Chegamos em casa e avisamos a Marília dos 6 cm de
dilatação e obviamente desistimos de ir a Londrina. Ela concordou e ficou
online nos acompanhando via skype. Ligamos para informar a Adelita, e ela disse
que chegaria em nossa casa perto das 8 horas. Eu resolvi deitar e descansar um
pouco na cama, mas as leves contrações não deixavam. Então apenas fiquei
deitada na cama conversando com o Maurício e ele contando as contrações.
07h30min Adelita nos liga avisando que já está a caminho de
casa, lhe aviso sobre as contrações (que já estavam mais fortes) e vou para o
chuveiro quente para relaxar. O Maurício ficou comigo conversando na porta do
banheiro e a única coisa que lembro, é que pensei, “meu parto é igual aqueles
que vi em fotografias, o pai na porta do banheiro acompanhando a parturiente”.
08h00min As contrações ficaram ainda mais fortes, porém bem
suportáveis. Mas começo a sentir medo de não aguentar e pedir analgesia.
Adelita que já está em nossa casa, faz novamente o exame de toque, eu já estava
com 7 cm de dilatação, e me diz que as dores não iam ficar mais fortes do que
já estavam. Conversamos com ela, e o Maurício e eu decidimos não fazer
domiciliar de improviso. Retorno ao chuveiro, e ela continua conversando com
meu esposo, e do chuveiro, percebi que ele ligou para minha obstetra de
Curitiba.
09h00min Adelita se despede e me aconselha a comer algo, pois
vou precisar de energia e ainda diz que logo não vou mais conseguir comer. Fico
no sofá conversando com minha doula enquanto Maurício prepara um lanche pra
mim, quando ele me entrega, eu já não consigo mais comer.
A partir de agora lembro de alguns flashes
do que acontecia.
Estava entregue ao parto, entregue a
partolândia.
Sinto uma grande necessidade de descanso
e começo a buscar um “ninho” em casa.
Vou para o quarto, volto ao banheiro,
levo cadeira da cozinha pra debaixo do chuveiro e volto pra sala. Marília me
falava muitas coisas que me confortavam e que me fortaleciam naquele momento -
ela que não fique brava comigo, mas não me lembro de nada. Lembro apenas do
quanto foi importante ouvir sua voz.
Decido pegar todas as almofadas do
sofá de casa, levo para o cômodo que estava com as cortinas fechadas e em
penumbra. Encontro uma posição que meu corpo pode relaxar e se adaptar melhor
as contrações. Marília conversa muito comigo via skype, e nessa conversa, transforma
as mãos do Maurício em suas. Marília me massageia pelas mãos do Mauricio e tira
a dor das contrações com as mãos dele.
Enquanto isso, o Maurício que está me
massageando com uma das mãos, segura a tablet com a outra para que Marília
possa me ver e os dois vão conversando sobre qual maternidade é melhor eu ir.
Ele vai ligando para as maternidades e deixando o telefone no ombro e contando
as contrações. (Primeira missão do pai polvo 100% completa).
Lembro que a Marília sempre comentava
durante as contrações que a Valentina era forte, que estava feliz e que logo
ela ia nascer
11h00min Comento com a Marília que já não me sentia mais a
vontade entre as contrações e ao ouvir isso o Mauricio vai até meu quarto e
pega uma roupa qualquer pra me vestir e me colocar no carro para irmos ao
hospital. E na contagem dele, minhas contrações estavam bem ritmadas, a cada 3
minutos.
11h05min Chegamos ao hospital Santa Cruz, sou levada a uma
sala de espera para fazer a triagem.
Enquanto espero, peço um copo de água
ao Maurício. Ele vai buscar, mas não havia copinhos plásticos no bebedouro mais
perto (oi? 1), então ele procura outro bebedouro e
finalmente encontra. Finalmente me chamam e acontece um diálogo bem semelhante
a este (isso eu lembro de verdade):
_Olá! Bom dia? O que está
acontecendo?
_ Estou em trabalho de parto.
AAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
e o Maurício me massageando.
_Bolsa rota?
_Sim, rompeu por volta das 03h30min
dessa madrugada.
_Então vamos escutar o coraçãozinho e
fazer o toque.
_Escutar o coração tudo bem. Mas o
toque eu não vou fazer.
_Mas como vou saber que você está em
trabalho de parto?
_É só o Senhor contar as contrações.
AAAAAAAA (oralizando) e o Maurício me
massageando.
_Mas isso não quer dizer nada!
_Ahhh... quer dizer sim!
_Então eu não posso te atender.
_Não tem problema, é só ligar para a
minha Obstetra que já esta a caminho do hospital.
_Bom, então vamos fazer o toque e eu
já passo as coordenadas até ela chegar.
_Eu posso até fazer o toque, mas só
se for com ela.
AAAAAAAA e o Maurício me massageando.
Então o médico super grosso e mal
educado me chama para ir até a maca e escutar o coraçãozinho da bebê.
_Pronto, pode se deitar com a cabeça
pra lá.
_Eu não vou deitar, eu não consigo.
As contrações estão muito fortes e doloridas se deitar não vou conseguir
levantar.
_Mas então como vou conseguir ouvir o
coraçãozinho?
_Comigo em pé! (eu sabia que dava
mesmo se eu estivesse plantando bananeira)
_Não tem como!
_Então faremos assim, nem do meu
jeito e nem do seu. Eu sento.
AAAAAAAA e o Maurício me massageando.
_Hunf! Tuuuudo beeem!
Estava tudo bem com os batimentos cardíacos
da Valentina e voltamos a mesa do Dotô! para que ele pudesse preencher o meu
prontuário. No meio das contrações e lendo o que escrevia de ponta cabeça, vi
que ele escreveu que fui grossa, mal educada e intransigente. Vieram novas
contrações e parei de ler o que ele escrevia.
11h15min Ao sair da sala uma enfermeira veio me buscar e me
levou ao pronto-socorro e o Maurício foi dar entrada na minha internação.
Chorei, gritei, implorei para que o deixassem comigo. Não teve jeito. Fiquei
sozinha no pronto-socorro, na minha frente uma mulher fazendo inalação e ao
lado um rapaz tomando soro na veia. E eu ali, sentadinha na cadeira de rodas o
que foi uma luta. Porque queriam que eu deitasse na maca.
Ali sozinha, comecei a sentir uma
forte pressão e levantei rápido da cadeira, usei a maca que estava lá como
apoio. Olhei para os lados para tentar encontrar uma enfermeira e nada (oi? 2) Como assim?!?!? Em um dos maiores hospitais
particulares de uma capital não fica um enfermeiro no pronto-socorro para
auxílio!?!?!
Resolvi abaixar as calças, porque
achei que a Valentina poderia nascer ali e mesmo sozinha eu tinha que estar
pronta para o que pudesse acontecer. Quando levantei minha bolsa terminou de
romper e literalmente lavei o chão do pronto-socorro, foi como se eu tivesse
derrubado uma bacia cheia de água no chão.
Senti mais um puxo e a oralização não
estava mais aliviando as dores. Resolvi gritar. Lembrei da minha doula dizendo quando
eu estava saindo de casa, que se eu desejasse gritar era pra ficar a vontade e
se me mandassem parar não era pra dar ouvidos. Bendita fala! Acho que se ela
não tivesse me dito isso eu talvez não gritaria. Após o segundo ou terceiro
grito ouvi uma pessoa passando e dizendo: “Meu Deus! esse hospital hoje vai ser
um inferno!” dei risada por dentro e fiquei na minha. Mais um grito e apareceu
uma enfermeira, perguntou se eu estava bem e eu disse que sim, que só estava em
trabalho de parto. Pedi pelo meu esposo, mas ela não soube responder, então
ficou comigo me massageando e respeitando meu momento. Pedi água a ela, ela deu
uma olhada no corredor para não me deixar sozinha, mas não havia ninguém.
Continuei a gritar e logo depois apareceram 3 ou 4 enfermeiras, minha visão
estava bem turva (parecia que eu tinha bebido 5 litros de cachaça...rs), a
enfermeira que estava comigo pediu água para essas que apareceram. Mas, elas
alegaram que eu não podia beber devido à anestesia da cesárea (oi? 3). Finalmente o Maurício apareceu e continuou com as
massagens, mas já me chamaram junto com uma maca para que eu fosse para a sala
de parto. Mais uma vez brigamos que eu não iria deitar e fui de cadeira de
rodas gritando por todo o hospital. Dentro do elevador senti um novo puxo e
levei meu tórax para frente para alívio da dor e a enfermeira pediu que eu não
fizesse aquilo porque o bebê poderia nascer no elevador (oi? 4).
11h45min Ao chegar à sala de parto, separaram o Maurício de
mim novamente para que ele pudesse vestir a roupa do hospital e já me levaram
para a sala. Fique muito feliz ao ver minha obstetra, com a crença de que ela
fosse me respeitar naquele momento, e em um segundo todo esse sentimento de
confiança foi por água abaixo. Ela falou que precisava fazer o toque, mas como eu
não autorizei, ela ficou brava e falou: “Aqui a paciente é você e eu a médica.
Algumas coisas você escolhe e outras eu!”. E exigiu que eu subisse na maca para
realizar o toque, fiquei sem chão. Mas nesse momento o Maurício entra e vem um
novo puxo e eu caio de joelhos no chão abraçada nele e a médica aproveita pra
fazer o toque. E eu, no meio de um berro, olho pra ele com aquela cara de não
deixa mais me fazerem isso!
Ao terminar a contração a médica me
convida novamente para deitar na maca. Nesse momento eu não parava de ouvir a
médica me chamando de amorzinho e a enfermeira de mãezinha (nossa! como isso
foi horrível e marcante!).
Ela explica que se eu parisse deitada
de lado era uma posição boa para que eu ver a bebê nascendo, cedi. Juro que
tentei subir na maca, mas novamente minhas pernas não tinham mais forças para
sustentar meu corpo. Pedi ajuda para subir, ela e o Maurício tentaram, mas veio
outra contração e voltei de joelho para o chão. A enfermeira veio me chamando
de mãezinha vamos tentar de novo no meio de um grito meu.
E o Maurício olhou pra médica e disse
que realmente não iria ter jeito. A médica então pede a enfermeira aqueles
panos esterilizados e forra o chão.
Sinto uma nova contração muito forte
e no meio de um grito olho pro Maurício que está chorando e me diz: “Ela está
nascendo.”
Eu nunca, em toda minha vida vi o
Maurício com uma expressão tão linda no rosto. A lembrança da expressão dele em
mistura com a da dor me causa uma sensação tão boa, uma vontade tão grande de
querer voltar naquele minuto.
11h54min Mas uma nova contração chega, e eu sinto algo
parecido a um sssploct... E apenas escuto a voz tensa da médica dizendo: “Ela esta
com uma circular no pescoço”, mas eu não me preocupo com isso. Então me viro
para ve-la e o Maurício que estava com ela no colo, me entrega. Como eu estava
de costas para o que acontecia, o cordão umbilical encostou em minha perna, e
até hoje tenho a lembrança da sensação dele encostando em mim. Pego a Valentina
no colo pela primeira vez, cheia de vernix em seu corpinho, mexendo os
bracinhos e as perninhas bem lisinha, com os olhos bem abertos me olhando.
Nunca vou esquecer aquela carinha me olhando, com um leve sorriso no rostinho. Coloco-a
em meu peito e o pai corta o cordão umbilical. Valentina se aconchega em meu
peito e fica me olhando. Momento Mágico, que infelizmente durou pouco, pois as
pessoas que estavam ali não queriam ter o mesmo tempo que nós. Então Valentina
foi para as mãos da pediatra ao lado do pai e nesse momento deu seu primeiro choro.
Enquanto isso fui para a cadeira de
parto e a médica retirou minha placenta que já estava descolada e só faltava
“nascer”..rs..... e também fez os três pontos da laceração que tive.
A enfermeira veio pedir onde estava a
roupinha da Valentina, pois ela iria ao berçário.
Dei risada, pois.... quem pensaria em
roupinha de bebê?!?!?!?!?
Maurício me entregou a Tina e foi até
o carro buscar as roupinhas, e a enfermeira veio pegar a Tina de mim. Disse a
ela que a Tina iria sim até o berçário, mas somente acompanhada pelo pai, então
até ele chegar com as roupinhas ela ficaria comigo. A enfermeira não gostou
muito, mas eu também não liguei.
O que foi ótimo, porque se esqueceram
de nós duas sozinhas na sala de parto. Ficamos juntas, pele a pele... Ofereci o
seio, mas Valentina apenas queria saber de me olhar e sorrir. Ficamos nos
namorando por um tempão, até que o sono venceu a Valentina e cantei pela
primeira vez para minha bebê enquanto ela dormia.
13h40min Lembraram da nossa existência e foram nos buscar na
sala de parto. Valentina foi com o pai chato, que não deixou aplicarem diversos
procedimentos de rotina em nossa pequena, como o colírio nos olhos, banho com
escova para retirar o vernix e outras coisas que nem sei mais.
Fui para o quarto e mais uma vez pedi
água para a enfermeira que disse que logo iria trazer. Mas demorou tanto que
minha companheira de quarto me deu a água dela. Meu almoço já estava frio no
quarto esperando por mim. Almocei com as roupas do hospital todas sujas de
sangue e depois de muito tempo o Maurício foi buscar uma enfermeira para me
auxiliar com toda aquela parafernália. Tomei banho e logo depois fui buscar a Valentina
no berçário. Ela ficou lá no máximo por 2 horas, nesse dia nasceram 37 bebês no
hospital e só ela e outro bebê nasceram de parto normal.
Hoje, quase 8 meses depois do nascimento da minha
filha, sempre penso o quanto um parto sem intervenções desnecessárias, onde o
bebê, a mulher, e o homem estão em conecção é transformador na vida de uma
família. Não é vontade minha lutar pela causa, mas parir me trouxe muito
aprendizado. Tenho a certeza que experimentei a melhor das sensações, e isso
sim faz com que eu me torne uma militante da causa, ajudando, orientando,
repassando tudo o que aprendi no dia que a Valentina nasceu.
Mulheres informem-se, procurem grupos de apoio ao
parto e a gestante, conheçam seus direitos. O maior direito que temos é sobre o
nascimento dos nossos filhos, acredite nisso e não deixem que tomem isso de
você e da história da sua família. Só dessa maneira a maternidade e a essência
feminina serão plenas.
Ler um relato assim me faz ter tanta vontade de passar por tudo isso de novo... Lindo relato, Paula, a Tina vai adotar ouvir essa história qdo estiver mais velha...
ResponderExcluirBem, eu chorei até soluçar ao ler o relato (meu esposo ficou preocupado... rs).
ResponderExcluirFiquei emocionada pela conquista em si, mas também por várias coincidências até o momento:
- Estou com 35 semanas e também pretendo viajar a Londrina para ter a Luiza perto da família de minha mãe;
- Durante o pré-natal, enfrentei vários momentos o ser "paciente" frente aos profissionais de saúde. Da última vez eu encarei a auxiliar de enfermagem! rs... mas tenho fé que as dificuldades serão menores quando for a Londrina.
Bem, de qualquer forma tenho que parabenizar aos 4 (pais, Valentina e Marília). O resultado com certeza foi devido a dedicação de todos!
Grande abraço,
Raphaela
Lindo relato.
ResponderExcluirPreciso urgente conversar com a Marilia!!