sexta-feira, 22 de janeiro de 1999

Relato de parto do nascimento do meu primeiro filho Mateus (1999)


Eu namorava com o meu marido Daniel há mais ou menos 8 meses quando engravidei. Tinha 15 anos. Meus pais e meus avós (pais são separados e os avós que ajudaram a me criar) não reagiram mal à notícia, apesar de eu ter esperado muito tempo para contar por medo. Ao mesmo tempo que eu tinha medo a vontade de formar uma família, a vontade de ter um filho eram muito grande e eu por mais que me preocupasse com o que eles iam pensar e fazer estava muito feliz! Fomos ao obstetra (que acompanhou minha mãe em um dos partos) para confirmar a gestação, devia estar com umas 12 semanas. Ele foi direto examinar o coração do bebê, lembro da minha mãe dizer: “Mas já? Já dá pra escutar???” Hehe. Foi um momento mágico pra mim. Dali em diante as consultas seriam comigo e meu marido, pra falar a verdade n gostei de estar ali com a mãe e a vó, sei lá. Tem coisas que ninguém pode falar por você ainda mais quando é o seu corpo. Lembro de comentar sobre parto com minha mãe, ela teve 3 normais e minha vó 6. Quando o médico começou logo na primeira consulta a falar sobre isso eu falei que a vó e ela tinham tido todos os filhos de normal (e a minha vó paterna linda 12 kkk) que comigo não seria diferente. Ele falou:
- Sim, não tem porquê uma moça nova como você fazer uma cesariana sem necessiade. Hoje em dia temos muita tecnologia para o parto, inclusive tem como fazer o Parto sem Dor! Com anestesia!
Eu confesso que a primeira impressão de parto com anestesia foi de total... Hãn? Cuma?  Mas não era isso o mais importante naquela consulta e segui com o pré-natal. Dessa vez com meu marido. As consultas eram legais e informativas, fiz umas 2 ecografias só e todos os exame que eram rotina na época.
Mais perto do parto o médico conversou com a gente sobre o que fazer em situações de emergência. Como o bebê nascer em casa por exemplo ou uma suspeita de pré-eclâmpsia. Hoje em dia acho que TODO médico deveria ter essa conversa com as gestantes! E insistiu no negócio da anestesia. Eu combinei que se eu pedisse ele daria, senão, gostaria de ter o parto o mais natural possível.

Aí entra uma observação... eu achava que parto natural, o mais natural possível, eu poderia ficar de cócoras por exemplo. Eu tinha visto em um trabalho que minha mãe fez sobre gestação e parto o parto de cócoras. Eu devia era ter perguntado pra minha mãe como foram os dela rs... Porque tudo o que aconteceu durante o parto foi bem diferente do que eu imaginava ser um “parto natural”. Na época eu achava que a experiência tinha sido maravilhosa. Morávamos no interior do Paraná, não sei também até que ponto alguma exigência minha seria respeitada.

A data provável do parto era do dia 25 de janeiro a 05 de fevereiro mais ou menos. Então na minha cabeça adolê ele jamais chegaria antes do dia 25 né?  Lembro que distribuí uns convitinhos de chá de fralda que seria dia 23 (porque todo mundo estava viajando antes, e porque eu estava relutante em fazer um chá, já que a maior parte das pessoas achava a minha gestação um erro) as roupinhas eu ia usar algumas mais neutras que eram da bebê da minha tia. O berço que foi doado estava montado, mas as roupinhas eu ainda tinha que buscar na minha tia, e outras eu ganharia do meu pai somente quando ele viesse para o nascimento (ele é de Curitiba). Sim, a situação financeira não era confortável pra não dizer que era complicada. Mas nos virávamos. Comprei algumas fraldas de pano (e ganhei também depois) e muita gente ajudou doando roupinhas dos seus bebês. As roupinhas que eu havia comprado eram maiores que RN. E estavam em casa lavadas e passadas somente essas. Pra mim eu teria pelo menos uma semana para buscar as outras que estavam limpas e arrumar tudo. Mala de maternidade? Nem tinha nada ainda! Pra falar a verdade eu curti demais a gestação em si, mas me preparei materialmente quase nada rs. Ficava horas conversando com o Mateus, sabia que lado que ele tava, quando ele dormia. Quando soluçava... foi uma gestação bem tranquila tirando os enjoos do primeiro trimestre, algumas brigas com a família que acabaram quando casei e fui morar na minha casa e uma torção no pé que me ferrou o tornozelo e andei um tempo de bengala ¬¬.

22 de Janeiro de 1999. Telêmaco Borba, Paraná.

Estava de umas 38 semanas eu e o marido acordados lá pelas 3 da manhã jogando Twinsen’s Odyssey no PC quando fiquei um pouco cansada e resolvi sentar no sofá. Daniel veio e deitou com a cabeça no meu colo e falou que estava com um cheiro diferente. Eu falei que não tava sentindo nada, que devia ser impressão dele hehe. Fui ao banheiro achando que devia ter comido algo que não tinha me feito bem, porque estava com uma dor de barriga horrível! Quando olhei a calcinha, tinha uma manchinha rosa. Pensei que não era nada demais, o médico falou mesmo que no final apareceria isso. Resolvi ir dormir, mas não conseguia dormir. Senti algumas contrações mas não achei que fossem de parto. Quando elas começaram a ficar um pouco ritmadas começamos a contar. Quando estavam mais ou menos de 5 em 5 minutosmeu marido que já tinha ido umas 5 vezes esquentar o carro que era a álcool me fala:
- Vamos pro hospital, o médico falou que quando estivesse de 5 em 5 era pra ir.
- Mas o bebê não pode nascer!!! Não fiz a mala, ele não tem roupaaaaaa!
- Tá bom, eu não sei como faz pro bebê nascer, você não sabe... (me abraçou) vamos morrer todos abraçados aqui.
- Táaaaaaa! Vamos, eu acho que eles vão me dar um remédio e eu volto pra casa (aham...).

Chegando no hospital marido ficou lá assinando cheque caução e fazendo cadastro e a a enfermeira me encaminhou direto para a sala de pré-parto. Fiquei longe do meu marido logo alí. Ele foi ver a internação e buscar algumas roupas do bebê que estavam com uma tia minha. O meu obstetra tinha acabado de fazer uma cesárea e estava saindo do centro cirúrgico me vê entrando na sala pré-parto e fica brabo porque não avisaram ele que eu estava ali. Ele não gostava de internar antes de avaliar no consultório que ficava ali no hospital mesmo. E eu avisei que era paciente dele... Desce para o consultório. Faz o toque (agora com marido junto mas logo ele ia sumir de novo) 8cm de dilatação, vai nascer. Sobre para a preparação. Que preparação é essa? Ninguém me preparou pra essa preparação aí...
Entro numa salinha onde estavam duas técnicas em enfermagem com uma máquina daquelas de acabamento para cabelos na mão. “Vem aqui mãezinha! A máquina chegou ontem vamos testar em você!” Pelo menos não é uma gillete velha como me falaram, pensei. E elas fizeram o “serviço” que nem a cara delas... mais tarde descobri que deixaram uma “franjinha”. Vai ver que era isso que elas riam tanto. Nessa hora uma delas me falou que eu não tinha que reclamar da dor, porque na hora de fazer tava bom. E falou algo das adolescentes grávidas que a cada ano tinham um filho. Algo como, não se preocupa que ano que vem você aparece aqui de novo. Me levaram para o quarto onde outra técnica me aguardava com um kit enema na mão. Eu falei que não era necessário porque tinha esvaziado o intestino em casa, mas não teve conversa. Ela fez o enema em mim. Eu estava sozinha novamente. Assim que ela termina corro para o banheiro morrendo de medo e pavor. Sozinha no banheiro com contrações e com medo do bebê nascer ali. Não saiu nada além do líquido que ela colocou em mim. Tomei um banho e me levaram para a sala de parto.Eu entrei perguntando sobre tudo o que estavam fazendo comigo e invés de resposta eu recebi um "você é sempre tão intrometida assim?" As contrações estavam suportáveis apesar de eu estar quase com dilatação total. Vieram colocar um sorinho (ocitocina) para acelerar as contrações (já que o médico ia viajar né, peguei ele no pulo) e aí o bicho pegou. Eu não queria anestesia. Mas o anestesista me falou que depois que começasse a correr o soro eu ia pedir. E de fato pedi. A dor ficou muito forte. Ele fez a analgesia e me deitou. Saiu da sala e um tempo depois veio o médico e rompeu a bolsa. E falou que daqui a pouco o bebê ia nascer. Eu já não tinha controle de nada mesmo. Fiquei esperando. A maior parte do tempo sozinha. De vez em quando vinha uma enfermeira pra olhar como estava. Até que ela saiu correndo falando que já estava coroando. Vieram todos para a sala menos meu marido. Fiquei o tempo todo perguntando dele. O médico me avisou (e não pediu) que ia fazer um corte no meu períneo, perguntei se era realmente necessário. “Preciso fazer para não estragar seu parquinho de diversões.” Enquanto isso eles conversaram sobre cor dos portões das suas casas e sobre futebol. Me falaram que o importante era eu fazer a força. E fiz. Quatro.O anestesista empurrou a minha barriga, lembro dos pelos ruivos do braço dele.
Eu não podia sentar pra pegar ele.
O Mateus nasceu. As 10:06 da manhã. Eu tinha chego ao hospital às 8:30 rs... E meu marido entrou na sala no mesmo momento que ele saía de mim. Foi emocionante, mas a sensação que eu tive é que eu era um frango daqueles crus que vem com o saquinho de miúdos dentro, e alguém tinha puxado os miúdos pra fora. Apesar dele ter saído com a minha força eu não senti nada.

Primeira mamada


 Foi direto para o bercinho aquecido que ficava ao lado. Ele nasceu bem roxinho e quando vi perguntei se ele estava vivo, o médico riu, falou que sim e o Mateus começou a chorar logo em seguida. Não foi aspirado, o pediatra só secou ele e deu pro meu marido segurar enquanto eu levava os pontos da episiotomia. Ficou com a gente o tempo todo. Eu mesma levei ele para o quarto junto comigo na maca. Mamou na primeira hora e direitinho.
E nasceu um bebê e uma família de verdade <3

Primeira foto em família

Naquela época eu achava que tinha tido o parto perfeito. Minha avó quando me perguntava do parto não entendia como ele foi “sem dor”. Ela falava: “Mas como??? Se é a dor que faz a gente colocar o bebê pra fora!” Eu me achava a pessoa melhor informada do mundo, quiçá do universo por ter tido um parto com analgesia. Mas hoje eu vejo que poderia ter sido mil vezes mais tranquilo! Hoje eu sei que algumas coisas que eu não gostei de terem sido feitas se enquadram na violência obstétrica que muitas mulheres sofrem quando tem seus bebês em hospitais e maternidades!
Se fosse hoje em dia eu teria uma doula, faria meu plano de parto, jamais teria aceitado ocitocina e muito menos analgesia!  Mas na época eu ainda acho que dei mais sorte que juizo!

BjoS!!!