quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Sobre como chegamos aqui e pra onde queremos ir

O parto antigamente era muito diferente do que é agora. E não estou falando do fato que muitos profissionais adoram frisar que "morriam muitas mães e bebês". Estou falando do papel da mulher no seu próprio parto. Em como ele foi mudando e por quê isso aconteceu. 
Tem uma série de vídeos que estão em inglês, mas que mostram bem essa "evolução" que aconteceu com o parto. De um evento feminino onde toda a capacidade da mulher em gerar uma nova vida era exaltada à medicalização e intervenção excessiva e a desacreditação da mulher da sua capacidade de gerar uma nova vida.
O primeiro vídeo mostra imagens de partos da história antiga. Chamam a atenção as posições verticalizadas e principalmente a cabeça da gestante sempre virada para trás. Nada de peito encostando no queixo para fazer força. A gestante já nessa época era auxiliada por outras mulheres. Muitas esculturas mostram que a gestante dava a luz em posição vertical com uma mulher na frente amparando o bebê e outra mulher suportando a gestante pelas costas. 



O segundo vídeo mostra imagens de partos dos anos 1500. São imagens Europeias. O modo como as mulheres pariam é muito semelhante ao das mulheres da Idade Antiga. As mulheres eram auxiliadas por parteiras que passavam seus conhecimentos de geração a geração. A posição vertical e a assistência por parteiras era para ricos e pobres. O parto na casa da mulher reunia outras mulheres com habilidades para auxiliara parturiente durante o parto e nos dias que sucediam. Mas muito mais que isso, elas iam também para celebrar o nascimento do novo bebê.



O terceiro vídeo mostra imagens de parto dos anos 1800. Imagens feitas por antropologistas mostram ainda a mulher em posição vertical e sustentada, geralmente pelo companheiro ou algo que elas pudessem segurar. Essas imagens foram feitas de nativos americanos. Comparativamente as posições de parto adotadas pelas nativas americanas eram muito semelhantes as posições adotadas por outras mulheres em outras culturas ao redor do mundo. Até as mulheres europeias pioneiras que viviam na America geralmente davam a luz em posição vertical e eram auxiliadas por seus maridos, amigas e às vezes por um médico. Muitas vezes usavam uma cadeira para parir herança da cultura europeia. Nessa época também era comum algumas mulheres parirem deitadas, recostadas em camas. Isso as diferenciava do povo "selvagem".
Ao final ela mostra que as posturas que sempre foram usadas através dos tempos tem sido resgatadas e usadas hoje em dia.



O quarto vídeo mostra as mudanças que houveram na maneira como as mulheres davam a luz. Lá pelos anos de 1600 os homens começaram a atender os partos. E inventaram os mais diversos instrumentos para isso. Primeiro eles eram chamados somente nos casos mais difíceis. Por causa da discrição eles deveriam trabalhar sob um lençol que cobria a mulher. O fato dos médicos serem homens fez com que muita coisa mudasse na maneira como se tratavam as mulheres durante o parto que cada vez menos eram realizados em casa. As mulheres se obrigavam a deitar para terem seus bebês, mesmo em partos sem nenhuma complicação. Aos poucos a mulher virou um objeto de estudo, era manipulada, estudada e tratada como uma máquina. Pela primeira vez na história encontramos ilustrações onde não se vê a mulher inteira em trabalho de parto. Só se vê a parte genital.
Na mesma época algumas mulheres continuavam parindo com as parteiras e em posição vertical.
Naquela época não havia conhecimento sobre vantagens e desvantagens de ficar deitada ou vertical curante o trabalho de parto. Hoje sabemos que a posição deitada influencia o aporte de oxigênio para o bebê pois a barriga pressiona os principais vasos sanguíneos da mãe. E pode tornar o parto mais demorado. Além do prejuízo que tivemos quando começaram a deitar as gestantes para elas parirem, temos também um prejuízo psicológico. Se antes a mulher paria cercada de pessoas em que ela confiava, agora ela fica deitada, sozinha e passiva.
A posição de litotomia (deitada com os pés em um estribo), foi adotada como a posição padrão para o parto. Bem diferente da posição clássica que as mulheres ao redor do mundo adotavam instintivamente para terem seus filhos. A mulher toda coberta e somente sua vulva para fora dos panos estéreis faz com que um parto normal pareça um procedimento cirúrgico. A mulher muitas vezes estava inconsciente, sob o efeito de drogas anestésicas. Nesta época também se tornou comum fazer a episiotomia (corte no períneo) de rotina e se usava muito o fórceps. As mulheres eram poucos instruídas sobre o que esperar quando iam para os hospitais. O que elas tinham que fazer era simplesmente confiar no médico. As parteiras continuavam a atender famílias que tinham menos dinheiro. Foi nessa época que se reforçou que parir em casa era "coisa de pobre". Mais tarde até o parto em si acabou sendo visto assim.
Hoje em dia na Europa as parteiras fazem parte do mais moderno sistema obstétrico. Mas nos EUA as mulheres não são encorajadas a ter o acompanhamento de parteiras e o parto é cheio de intervenções desnecessárias. O Brasil infelizmente copia o modelo obstétrico americano.

No quinto vídeo vemos as consequências dessas mudanças.
Apesar de ter trazido muitos benefícios, como a cesariana ter se tornado mais segura, os hospitais modernos  e a prática obstétrica moderna trouxe com eles o abuso das intervenções e o abuso das cesarianas. O uso abusivo da anestesia peridural traz como consequência o aumento do índice de cesáreas. Enquanto o parto fica cada vez mais medicalizado as mulheres começam a lutar por mudanças. O movimento pelo Parto Natural (Humanizado) trouxe muitas melhorias para os hospitais. Reforçando a posição mais vertical para parir. Muitos hospitais tem camas que se adaptam ou cadeiras de parto para possibilitar uma posição mais vertical para a mulher. Famílias conseguiram o direito de terem acompanhantes durante o parto e muitos hospitais encorajam as mães e segurarem seus bebês logo que ele nasce para promover o vínculo e facilitar a amamentação. Parteiras tem trabalhado para ocupar o seu lugar pois são as melhores profissionais para atender partos de baixo risco tanto no hospital quanto em casa. E muitos lugares as mulheres podem contar com o auxílio de uma doula para ajuda-las emocionalmente durante o parto.
Está na hora de resgatarmos a melhor maneira que nosso corpo tem para parir.




Eu fiz um breve resumo do que se fala em cada vídeo. Ele mostra como chegamos ao parto medicalizado e cheio de intervenções desnecessárias.
E afinal, para onde queremos ir?
Queremos que as mulheres possam parir da melhor maneira possível para elas. Isso é mais saudável para as mãe se para os bebês. Nós temos tecnologia para acompanhar partos e para intervir SE preciso. Mas usar intervenções de rotina como sendo necessárias em todos os casos é um erro. E prejudica o processo do parto muito mais do que se imagina.
Temos condições hoje em dia de parir com liberdade e com muito mais segurança que nossos ancestrais.
E lutamos por isso.

BjoS!

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