quarta-feira, 17 de julho de 2013

Relato da Paula Kranz do parto da Valentina

Esse relato é bem especial. Foi toda uma situação inusitada que se tem algo a nos ensinar é: nós não controlamos nada. Podemos fazer planos, mas nem sempre eles serão cumpridos, nem sempre as coisas serão exatamente como queremos e se entregar para o momento sem se importar com a quebra dos nossos próprios "protocolos" é fundamental! 

Toda programação e o desejo de ter uma bebê Londrinense foi em vão, Valentina chegou escolhendo tudo, e decidiu ser Curitibana.

Sexta-feira, 23/11/2012
Foi a minha última consulta pré-natal em Curitiba, estava no segundo dia da 36ª semana de gestação.
Como já conhecia minha GO, imaginei que ela fosse me examinar com o exame do toque. Se ela não fizesse isso, eu mesma iria pedir. Pois, uma semana depois dessa consulta, iria para Londrina. E como iria viajar, queria mesmo ter certeza de como estavam às coisas.
Sai da consulta feliz da vida, com um sentimento lindo na altura do coração. Acabo de descobrir que já tenho 1 cm de dilatação.
Sai do consultório e fui pra casa da maneira que sempre fiz, com ou sem bebezinho. Uma leve caminhada de no mínimo uns 30 minutos. Próximo de casa, entrei em um supermercado para almoçar e após o almoço me senti tão cansada que por ali fiquei vendo o movimento da rua e pensando nessa dilatação por quase uma hora.
Ao chegar em casa fui correndo contar pra minha doula, que falou: “Venha para Londrina, ela vai nascer de 37 semanas!”
Mas eu não me sentia confortável com a ideia de ir para Londrina, uma semana antes do programado, e deixar meu esposo aqui sozinho preocupado. Então resolvi ficar até o dia 30/11, que era a data da viajem a Londrina.

Sábado e Domingo, 24 e 25/11/2012
Fim de semana comum. Casa para arrumar, mercado para fazer, televisão para assistir.

Segunda-feira, 26/11/2012
Acordei, fui para a acupuntura e ao sair de lá resolvi comprar uma máquina fotográfica aquática para fotografar a barriga na água durante a aula de natação. Voltei pra casa de ônibus e não a pé (milagrosamente), e toda feliz com meu barrigão. Eu já começava a sentir um peso ao andar, mas até então a única mudança na rotina foi o ônibus.
Cheguei em casa e fui direto arrumar meus materiais de desenho para levar a Londrina. Peguei uma caixa levemente pesada, senti uma pressão e pensei: “É, realmente ta na hora de começar a pegar mais leve. Então à tarde, não irei a pé para a yoga e natação, vou de ônibus”. (Nossa! como sou uma pessoa sensata)
Assim foi.
Na aula de yoga quase não consegui fazer as posições, realmente estava muito difícil. Eu jurava que era culpa do calor. Acabou a aula e fui correndo pra aula de natação, era minha última semana então queria aproveitar todos os minutos de piscina. Cheguei lá e já me avisaram que a água (ainda) estava suuuuper gelada, mas como estava com minha câmera fotográfica na mochila resolvi enfrentar a água fria. Não fiz aula, apenas fotografei a pança com a ajuda de um amigo (infelizmente nenhumas dessas fotos deram certo).
No final da aula, me despedi da professora de natação dizendo: Se eu não vier quarta-feira.... É porque nasceu!!!!
Cheguei em casa com o cansaço do dia, mas toda contente e exibida com meu barrigão. Adorava vestir o maiô e me olhar de perfil no reflexo do espelho.

Terça-feira, 27/11/2012
03h20min da manhã: Acordo e vou ao banheiro com aquela imensa vontade de fazer xixi;
03h25min da manha: Deito na cama e sinto que saiu um “xixizinho” involuntário, e penso: “Não, é coisa da minha cabeça, não é nada!”. Resolvi me mexer mais uma vez para me certificar e saiu um monte de “xixi” involuntário. Na cama mesmo eu solto um: “Xiiiiiiiii!!!!”.
Meu esposo que estava acordado me pergunta o que aconteceu, eu disse que achava que minha bolsa havia rompido, mas que era melhor continuarmos dormindo, e que o tempo mínimo para iniciar o trabalho de parto era de aproximadamente 8 horas, e pela manhã resolveríamos o que fazer.
Então ele disse: “Vamos pelo menos ter certeza do que aconteceu”. E quando levantei da cama saiu mais líquido e no colchão já tinha uma mancha de molhado.
Ele foi correndo pra cozinha dizendo: “Vou fazer um café, não vou mais dormir mesmo”.
E eu resolvi ligar pra minha doula láááááá em Londrina, que me acalmou. Fiquei nervosa porque não tinha visto nada do parto em Curitiba, caso isso acontecesse.

(Toda vez que tentei falar sobre o parto com minha GO aqui em Curitiba, ela sempre dizia que estava cedo para conversar sobre isso. Então comecei a me envolver com o assunto e conforme o tempo ia passando fui sentido a vontade cada vez maior de que a bebê fosse Londrinense. Encontrei uma doula lá na terrinha que me identifiquei e marquei uma consulta com um GO de sua indicação.)

Então a Marília, minha doula, me orientou a tomar banho, a relaxar e olhar novamente a cor do líquido. Estava clarinho, com cheiro Q-boa...
Resolvemos ir para Londrina, já que teríamos esse tempo de 8 horas. Por volta das 4 horas da manhã estávamos prontos para pegar estrada. Liguei para minha doula avisando que estávamos de saída e ela sugeriu que eu entrasse em contato com minha obstetra que acompanhou o pré-natal para ver se ela gostaria de me examinar e analisar como estava à situação.
Ao atender ao telefone e contar a ela o que estava acontecendo, a primeira pergunta que a obstetra fez foi sobre a taxa de disponibilidade, pois não havíamos conversado a respeito, já que ela sempre desconversava e ao final da gestação já sabia que meu parto seria em Londrina.
Nesse momento olhei com cara de assustada para o Maurício porque não imaginava que ela iria tocar no assunto nesse momento e respondi a ela que meu parto seria particular, pois meu plano de saúde não cobra obstetrícia. Então, ela me orientou a voltar a dormir e ligar novamente por volta das 7 horas da manhã, para ela me orientar sobre como proceder com as contrações.
Desliguei o telefone e disse ao Maurício e a minha doula, que caso fosse necessário parir em Curitiba, não seria essa obstetra quem iria assistir meu parto. E os dois concordaram, claro! Quem seria louco de ir contra uma mulher em início de trabalho de parto?

05h00min Marília toda preocupada com a situação, começou a procurar doulas e parteiras para que pudessem nos ajudar. E assim, acordamos a Adelita, do grupo Parto do Luar, que trabalha com parto domiciliar. Expliquei por telefone toda a situação, e Adelita nos orientou a ir à maternidade Curitiba que fica próximo a nossa casa (já tínhamos falado sobre essa possibilidade, mas não fomos antes porque achamos que talvez, não iríamos conseguir sair da maternidade. E não queríamos mesmo dar brechas a cesárea) e também nos instruiu contando que eles não podiam fazer a internação contra a nossa vontade.

05h30min Chegamos à maternidade Curitiba e esperamos, esperamos, esperamos, para sermos atendidos. Nesse momento comecei a sentir leves contrações, mas tão leves que eu precisava prestar muita atenção para sentir, e o que me preocupava era a quantidade de líquido amniótico que perdia. Eu queria mesmo sair do hospital e pegar estrada pra Londrina, estava achando toda aquela espera perda de tempo na viagem.

06h10min Por volta desse horário finalmente fomos atendidos na maternidade. Veio uma enfermeira, me deu um jaleco para vestir e me perguntou se já era pra fazer a tricotomia. Eu olhei rindo pro Maurício e a cada riso o líquido amniótico escorria.
Enquanto isso, a enfermeira foi medindo minha pressão e me perguntou se eu tinha pressão alta. Eu não lembro o valor, mas a enfermeira falou um valor absurdo. E logo entrou a médica, escutou o coração da Valentina e faz o exame de toque, onde descobrimos que já estava com 6 cm de dilatação. A médica sugeriu a internação e então nós “fugimos” do hospital.

06h40min Chegamos em casa e avisamos a Marília dos 6 cm de dilatação e obviamente desistimos de ir a Londrina. Ela concordou e ficou online nos acompanhando via skype. Ligamos para informar a Adelita, e ela disse que chegaria em nossa casa perto das 8 horas. Eu resolvi deitar e descansar um pouco na cama, mas as leves contrações não deixavam. Então apenas fiquei deitada na cama conversando com o Maurício e ele contando as contrações.

07h30min Adelita nos liga avisando que já está a caminho de casa, lhe aviso sobre as contrações (que já estavam mais fortes) e vou para o chuveiro quente para relaxar. O Maurício ficou comigo conversando na porta do banheiro e a única coisa que lembro, é que pensei, “meu parto é igual aqueles que vi em fotografias, o pai na porta do banheiro acompanhando a parturiente”.


08h00min As contrações ficaram ainda mais fortes, porém bem suportáveis. Mas começo a sentir medo de não aguentar e pedir analgesia. Adelita que já está em nossa casa, faz novamente o exame de toque, eu já estava com 7 cm de dilatação, e me diz que as dores não iam ficar mais fortes do que já estavam. Conversamos com ela, e o Maurício e eu decidimos não fazer domiciliar de improviso. Retorno ao chuveiro, e ela continua conversando com meu esposo, e do chuveiro, percebi que ele ligou para minha obstetra de Curitiba.

09h00min Adelita se despede e me aconselha a comer algo, pois vou precisar de energia e ainda diz que logo não vou mais conseguir comer. Fico no sofá conversando com minha doula enquanto Maurício prepara um lanche pra mim, quando ele me entrega, eu já não consigo mais comer.

A partir de agora lembro de alguns flashes do que acontecia.
Estava entregue ao parto, entregue a partolândia.

Sinto uma grande necessidade de descanso e começo a buscar um “ninho” em casa.
Vou para o quarto, volto ao banheiro, levo cadeira da cozinha pra debaixo do chuveiro e volto pra sala. Marília me falava muitas coisas que me confortavam e que me fortaleciam naquele momento - ela que não fique brava comigo, mas não me lembro de nada. Lembro apenas do quanto foi importante ouvir sua voz.
Decido pegar todas as almofadas do sofá de casa, levo para o cômodo que estava com as cortinas fechadas e em penumbra. Encontro uma posição que meu corpo pode relaxar e se adaptar melhor as contrações. Marília conversa muito comigo via skype, e nessa conversa, transforma as mãos do Maurício em suas. Marília me massageia pelas mãos do Mauricio e tira a dor das contrações com as mãos dele.
Enquanto isso, o Maurício que está me massageando com uma das mãos, segura a tablet com a outra para que Marília possa me ver e os dois vão conversando sobre qual maternidade é melhor eu ir. Ele vai ligando para as maternidades e deixando o telefone no ombro e contando as contrações. (Primeira missão do pai polvo 100% completa).
Lembro que a Marília sempre comentava durante as contrações que a Valentina era forte, que estava feliz e que logo ela ia nascer

11h00min Comento com a Marília que já não me sentia mais a vontade entre as contrações e ao ouvir isso o Mauricio vai até meu quarto e pega uma roupa qualquer pra me vestir e me colocar no carro para irmos ao hospital. E na contagem dele, minhas contrações estavam bem ritmadas, a cada 3 minutos.

11h05min Chegamos ao hospital Santa Cruz, sou levada a uma sala de espera para fazer a triagem.
Enquanto espero, peço um copo de água ao Maurício. Ele vai buscar, mas não havia copinhos plásticos no bebedouro mais perto (oi? 1), então ele procura outro bebedouro e finalmente encontra. Finalmente me chamam e acontece um diálogo bem semelhante a este (isso eu lembro de verdade):
_Olá! Bom dia? O que está acontecendo?
_ Estou em trabalho de parto.
AAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH e o Maurício me massageando.
_Bolsa rota?
_Sim, rompeu por volta das 03h30min dessa madrugada.
_Então vamos escutar o coraçãozinho e fazer o toque.
_Escutar o coração tudo bem. Mas o toque eu não vou fazer.
_Mas como vou saber que você está em trabalho de parto?
_É só o Senhor contar as contrações.
AAAAAAAA (oralizando) e o Maurício me massageando.
_Mas isso não quer dizer nada!
_Ahhh... quer dizer sim!
_Então eu não posso te atender.
_Não tem problema, é só ligar para a minha Obstetra que já esta a caminho do hospital.
_Bom, então vamos fazer o toque e eu já passo as coordenadas até ela chegar.
_Eu posso até fazer o toque, mas só se for com ela.
AAAAAAAA e o Maurício me massageando.
Então o médico super grosso e mal educado me chama para ir até a maca e escutar o coraçãozinho da bebê.
_Pronto, pode se deitar com a cabeça pra lá.
_Eu não vou deitar, eu não consigo. As contrações estão muito fortes e doloridas se deitar não vou conseguir levantar.
_Mas então como vou conseguir ouvir o coraçãozinho?
_Comigo em pé! (eu sabia que dava mesmo se eu estivesse plantando bananeira)
_Não tem como!
_Então faremos assim, nem do meu jeito e nem do seu. Eu sento.
AAAAAAAA e o Maurício me massageando.
_Hunf! Tuuuudo beeem!

Estava tudo bem com os batimentos cardíacos da Valentina e voltamos a mesa do Dotô! para que ele pudesse preencher o meu prontuário. No meio das contrações e lendo o que escrevia de ponta cabeça, vi que ele escreveu que fui grossa, mal educada e intransigente. Vieram novas contrações e parei de ler o que ele escrevia.

11h15min Ao sair da sala uma enfermeira veio me buscar e me levou ao pronto-socorro e o Maurício foi dar entrada na minha internação. Chorei, gritei, implorei para que o deixassem comigo. Não teve jeito. Fiquei sozinha no pronto-socorro, na minha frente uma mulher fazendo inalação e ao lado um rapaz tomando soro na veia. E eu ali, sentadinha na cadeira de rodas o que foi uma luta. Porque queriam que eu deitasse na maca.

Ali sozinha, comecei a sentir uma forte pressão e levantei rápido da cadeira, usei a maca que estava lá como apoio. Olhei para os lados para tentar encontrar uma enfermeira e nada (oi? 2) Como assim?!?!? Em um dos maiores hospitais particulares de uma capital não fica um enfermeiro no pronto-socorro para auxílio!?!?!
Resolvi abaixar as calças, porque achei que a Valentina poderia nascer ali e mesmo sozinha eu tinha que estar pronta para o que pudesse acontecer. Quando levantei minha bolsa terminou de romper e literalmente lavei o chão do pronto-socorro, foi como se eu tivesse derrubado uma bacia cheia de água no chão.
Senti mais um puxo e a oralização não estava mais aliviando as dores. Resolvi gritar. Lembrei da minha doula dizendo quando eu estava saindo de casa, que se eu desejasse gritar era pra ficar a vontade e se me mandassem parar não era pra dar ouvidos. Bendita fala! Acho que se ela não tivesse me dito isso eu talvez não gritaria. Após o segundo ou terceiro grito ouvi uma pessoa passando e dizendo: “Meu Deus! esse hospital hoje vai ser um inferno!” dei risada por dentro e fiquei na minha. Mais um grito e apareceu uma enfermeira, perguntou se eu estava bem e eu disse que sim, que só estava em trabalho de parto. Pedi pelo meu esposo, mas ela não soube responder, então ficou comigo me massageando e respeitando meu momento. Pedi água a ela, ela deu uma olhada no corredor para não me deixar sozinha, mas não havia ninguém. Continuei a gritar e logo depois apareceram 3 ou 4 enfermeiras, minha visão estava bem turva (parecia que eu tinha bebido 5 litros de cachaça...rs), a enfermeira que estava comigo pediu água para essas que apareceram. Mas, elas alegaram que eu não podia beber devido à anestesia da cesárea (oi? 3). Finalmente o Maurício apareceu e continuou com as massagens, mas já me chamaram junto com uma maca para que eu fosse para a sala de parto. Mais uma vez brigamos que eu não iria deitar e fui de cadeira de rodas gritando por todo o hospital. Dentro do elevador senti um novo puxo e levei meu tórax para frente para alívio da dor e a enfermeira pediu que eu não fizesse aquilo porque o bebê poderia nascer no elevador (oi? 4).

11h45min Ao chegar à sala de parto, separaram o Maurício de mim novamente para que ele pudesse vestir a roupa do hospital e já me levaram para a sala. Fique muito feliz ao ver minha obstetra, com a crença de que ela fosse me respeitar naquele momento, e em um segundo todo esse sentimento de confiança foi por água abaixo. Ela falou que precisava fazer o toque, mas como eu não autorizei, ela ficou brava e falou: “Aqui a paciente é você e eu a médica. Algumas coisas você escolhe e outras eu!”. E exigiu que eu subisse na maca para realizar o toque, fiquei sem chão. Mas nesse momento o Maurício entra e vem um novo puxo e eu caio de joelhos no chão abraçada nele e a médica aproveita pra fazer o toque. E eu, no meio de um berro, olho pra ele com aquela cara de não deixa mais me fazerem isso!
Ao terminar a contração a médica me convida novamente para deitar na maca. Nesse momento eu não parava de ouvir a médica me chamando de amorzinho e a enfermeira de mãezinha (nossa! como isso foi horrível e marcante!).
Ela explica que se eu parisse deitada de lado era uma posição boa para que eu ver a bebê nascendo, cedi. Juro que tentei subir na maca, mas novamente minhas pernas não tinham mais forças para sustentar meu corpo. Pedi ajuda para subir, ela e o Maurício tentaram, mas veio outra contração e voltei de joelho para o chão. A enfermeira veio me chamando de mãezinha vamos tentar de novo no meio de um grito meu.
E o Maurício olhou pra médica e disse que realmente não iria ter jeito. A médica então pede a enfermeira aqueles panos esterilizados e forra o chão.
Sinto uma nova contração muito forte e no meio de um grito olho pro Maurício que está chorando e me diz: “Ela está nascendo.”
Eu nunca, em toda minha vida vi o Maurício com uma expressão tão linda no rosto. A lembrança da expressão dele em mistura com a da dor me causa uma sensação tão boa, uma vontade tão grande de querer voltar naquele minuto.

11h54min Mas uma nova contração chega, e eu sinto algo parecido a um sssploct... E apenas escuto a voz tensa da médica dizendo: “Ela esta com uma circular no pescoço”, mas eu não me preocupo com isso. Então me viro para ve-la e o Maurício que estava com ela no colo, me entrega. Como eu estava de costas para o que acontecia, o cordão umbilical encostou em minha perna, e até hoje tenho a lembrança da sensação dele encostando em mim. Pego a Valentina no colo pela primeira vez, cheia de vernix em seu corpinho, mexendo os bracinhos e as perninhas bem lisinha, com os olhos bem abertos me olhando. Nunca vou esquecer aquela carinha me olhando, com um leve sorriso no rostinho. Coloco-a em meu peito e o pai corta o cordão umbilical. Valentina se aconchega em meu peito e fica me olhando. Momento Mágico, que infelizmente durou pouco, pois as pessoas que estavam ali não queriam ter o mesmo tempo que nós. Então Valentina foi para as mãos da pediatra ao lado do pai e nesse momento deu seu primeiro choro.
Enquanto isso fui para a cadeira de parto e a médica retirou minha placenta que já estava descolada e só faltava “nascer”..rs..... e também fez os três pontos da laceração que tive.
A enfermeira veio pedir onde estava a roupinha da Valentina, pois ela iria ao berçário.
Dei risada, pois.... quem pensaria em roupinha de bebê?!?!?!?!?

Maurício me entregou a Tina e foi até o carro buscar as roupinhas, e a enfermeira veio pegar a Tina de mim. Disse a ela que a Tina iria sim até o berçário, mas somente acompanhada pelo pai, então até ele chegar com as roupinhas ela ficaria comigo. A enfermeira não gostou muito, mas eu também não liguei.
O que foi ótimo, porque se esqueceram de nós duas sozinhas na sala de parto. Ficamos juntas, pele a pele... Ofereci o seio, mas Valentina apenas queria saber de me olhar e sorrir. Ficamos nos namorando por um tempão, até que o sono venceu a Valentina e cantei pela primeira vez para minha bebê enquanto ela dormia.


13h40min Lembraram da nossa existência e foram nos buscar na sala de parto. Valentina foi com o pai chato, que não deixou aplicarem diversos procedimentos de rotina em nossa pequena, como o colírio nos olhos, banho com escova para retirar o vernix e outras coisas que nem sei mais.
Fui para o quarto e mais uma vez pedi água para a enfermeira que disse que logo iria trazer. Mas demorou tanto que minha companheira de quarto me deu a água dela. Meu almoço já estava frio no quarto esperando por mim. Almocei com as roupas do hospital todas sujas de sangue e depois de muito tempo o Maurício foi buscar uma enfermeira para me auxiliar com toda aquela parafernália. Tomei banho e logo depois fui buscar a Valentina no berçário. Ela ficou lá no máximo por 2 horas, nesse dia nasceram 37 bebês no hospital e só ela e outro bebê nasceram de parto normal.

Hoje, quase 8 meses depois do nascimento da minha filha, sempre penso o quanto um parto sem intervenções desnecessárias, onde o bebê, a mulher, e o homem estão em conecção é transformador na vida de uma família. Não é vontade minha lutar pela causa, mas parir me trouxe muito aprendizado. Tenho a certeza que experimentei a melhor das sensações, e isso sim faz com que eu me torne uma militante da causa, ajudando, orientando, repassando tudo o que aprendi no dia que a Valentina nasceu.


Mulheres informem-se, procurem grupos de apoio ao parto e a gestante, conheçam seus direitos. O maior direito que temos é sobre o nascimento dos nossos filhos, acredite nisso e não deixem que tomem isso de você e da história da sua família. Só dessa maneira a maternidade e a essência feminina serão plenas. 

3 comentários:

  1. Ler um relato assim me faz ter tanta vontade de passar por tudo isso de novo... Lindo relato, Paula, a Tina vai adotar ouvir essa história qdo estiver mais velha...

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  2. Bem, eu chorei até soluçar ao ler o relato (meu esposo ficou preocupado... rs).
    Fiquei emocionada pela conquista em si, mas também por várias coincidências até o momento:
    - Estou com 35 semanas e também pretendo viajar a Londrina para ter a Luiza perto da família de minha mãe;
    - Durante o pré-natal, enfrentei vários momentos o ser "paciente" frente aos profissionais de saúde. Da última vez eu encarei a auxiliar de enfermagem! rs... mas tenho fé que as dificuldades serão menores quando for a Londrina.
    Bem, de qualquer forma tenho que parabenizar aos 4 (pais, Valentina e Marília). O resultado com certeza foi devido a dedicação de todos!

    Grande abraço,
    Raphaela

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  3. Lindo relato.
    Preciso urgente conversar com a Marilia!!

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