quarta-feira, 17 de julho de 2013

Relato da Juliana Carvalho do Nascimento do João

Dia 14 de Agosto de 2012. Dois dias apenas de atraso menstrual e uma vontade enorme de estar grávida me levaram a fazer o teste de gravidez. Positivo! Uma alegria enorme tomou conta de mim. Marido feliz, primeiro neto vindo pros meus pais, primeiro sobrinho de duas tias corujas.. E nesse clima de realização passei os 8 meses que se seguiram. Não tenho absolutamente nada do que reclamar da gravidez. Não enjoei, dormi bem todas as noites, não senti dor de coluna e João permaneceu a gravidez toda super bem. Me senti linda, em paz, amada, foi uma sensação sublime a de estar grávida. Muito mais do que eu podia algum dia ter imaginado. Cuidei do meu corpo, cuidei do meu espírito, cuidei da minha mente, de tudo que pudesse pra realmente permitir aquilo que eu vivia ser algo transformador na minha vida.

Eu quis muito e batalhei muito pra dar ao meu filho um parto que eu julgasse digno pra ele. Quem me acompanhou sabe disso. Não pude permitir que o NOSSO momento, meu do João e do Fred, fosse roubado de NÓS. E pra fechar esse ciclo, eu queria muito que o parto fosse como sempre sonhamos.
Depois de 40 semanas e um dia de gestação, a bolsa estourou. Alegria, alegria! Domingo, 21 de abril. Rompeu enquanto eu dormia. Acordei umas 06:00h, fui ao banheiro, liquido claro, pouca quantidade. “Eeeeeeeeeee!! Acho que João tá vindo!”. Poucas contrações inicialmente, e quase nem doíam.

- Amor, amooor (amor dormindo), acho que a bolsa estourou.

- Tem certeza?

- Não, mas acho que sim. Vou ligar pra Marília (doula).

No dia anterior eu havia participado de uma oficina maravilhosa conduzida pela Claudia Rodrigues, sobre gestação e parto. Como eu já estava com 40 semanas, durante a oficina, a Claudia fez uns exercícios comigo ensinando como chamar as contrações quando eu entrasse em trabalho de parto. Tiro e queda. 12 horas depois meu TP começou.

Avisei a Marília que não iria ao segundo dia de oficina por motivos óbvios. As contrações começaram logo em seguida, ainda sem ritmo, e não duraram muito tempo. Resolvi descansar, tentar dormir de novo, porque eu não descartava a possibilidade de um TP longo, sempre achei que eu deveria estar preparada pra isso. Tanto que imaginei que João só fosse nascer no outro dia. Pra mim se ele nascesse até meio-dia de segunda eu estava no lucro. Umas 10:30h as contrações pararam. Liguei pra Lia (parteira), e ela me passou as orientações. Caminhada, boa alimentação, “14:30h nos falamos de novo”.Eu e Fred caminhamos pelo condomínio, fomos no mercado, conversamos, sonhamos, imaginamos, e vivemos, juntos, cada contração que meu útero fazia. Fred foi muito parceiro! Me apaixonei muito mais por ele a partir desse dia.  14:30h liguei pra ela de novo: “Nada, Lia, tudo na mesma”.  14:31h veio a primeira contração. Fred ia anotando tudo, o intervalo e a duração das contrações. E eu contando jacarés: 1 jacaré, 2 jacaré, 3 jacaré, pra ver a duração de cada contração.. hahahaha.. No início elas duravam uns 20 jacarés, e vinham a cada 8 ou 9 minutos. Até 16:30h alternamos caminhada e descanso em casa. Nessa hora elas já duravam um pouco mais, e intervalos um pouco menores. Liguei novamente pra Lia e ela disse que já estava se preparando para vir, ela e a Cris (enfermeira neonatal). “Mas já?????” Eu perguntei. Como assim? Eu tava me sentindo tão bem, as contrações não doíam muito.. como assim eu já estava em trabalho de parto? Daí pra frente o tempo simplesmente voou. Impressionante como a gente perde a noção do tempo durante o TP. No início da noite as minhas mulheres queridas chegaram. Primeiro a Claudia e a Re, doula também, vieram por amizade e foram lindamente parceiras em todo o processo do parto. Logo depois a Marília, Lia e Cris. Nesse momento a gente já não contava mais as contrações. Com as meninas aqui estávamos seguros e prontos pra todo o processo. Consegui ficar na sala com elas por um tempo, mas as contrações foram ficando mais dolorosas, e pediam pra que eu me concentrasse mais nelas. Quando as contrações vinham eu fechava os olhos, sentia aquela onda vindo e indo, e daí eu voltava, embalada por mantras que tocavam no som. E eu achando que tava tudo sob controle ainda, “isso vai demoraaaaar” eu pensava. A Claudia sugeriu que eu e Fred fossemos pro quarto. Mocinha sabida das coisas. Entrei no quarto e mergulhei na partolândia. Passei a não raciocinar mais a partir desse momento, deixei a sagrada natureza me guiar. Perdi a noção do tempo, não ouvi quase nada, vi pouca coisa. A partolândia é um local de sensações, mágicas sensações. A dor começou a apertar e incomodava mais. Deitei na cama, fiquei na bola, me ajoelhei no chão, e as contrações vinham e iam. O Fred ficou o tempo todo do meu lado. Ele me lembrava de respirar corretamente quando a dor vinha, me segurava nos intervalos, sussurrava amor e força nos meus ouvidos. Não me lembro muito das palavras dele, mas me lembro perfeitamente de sentir a voz dele dentro de mim. O tempo todo! Num certo momento ele saiu (depois eu soube que era minha sogra no telefone, ela nem ninguém da nossa família sabiam do parto, achamos melhor assim) e a Marília veio fazer massagem em mim. UAUUUU, que massagem! Sentia como se mil mãos me tocassem nas costas naquele momento. A bolsa rompeu de vez durante a massagem. Tirei a roupa e fui pro chuveiro.

Dor, intervalo, dor, intervalo, doooor, intervalo. E o mergulho era cada vez mais profundo. A Marília me entregou a banqueta de parto, e ficamos ali algum tempo. Não me dei conta em que momento todas as maravilhosas mulheres já estavam ali no quarto acompanhando a gente. Vi a Lia no banheiro enquanto eu estava no chuveiro, isso era sinal que nosso João não demoraria muito. Ela ouviu o BCF do João pra ver se estava tudo bem, e me avisava que sim, estava, “tá ouvindo? Tá tudo certo, meu bem.” Lia, santa Lia. Como era bom ouvir a voz dela ali!!!  Me senti tão segura com a presença dela. Ondas cada vez mais dolorosas, mais profundas, e ficar no chuveiro já não estava mais legal. Então vamos para o quarto. “Posso ir?” Eu perguntava pra Lia. “Claro que pode”. Ajoelhei no chão e me debrucei sobre a cama. E isso aconteceu algumas vezes: banheiro, quarto, chão, cama. Me lembro bem de um momento que saí do banheiro e entrando no quarto veio uma contração daquelas, de literalmente derrubar. Me pus de cócoras no chão, não rolava ficar em pé. E gemi, com vontade! Nessa hora eu tive um momento de consciência do que acontecia ao meu redor. Caramba, que dor!!! “Caralhowwww, isso dói muito!”, eu repeti essa frase algumas vezes depois disso. BCF do João de novo, tudo certo. Acho que ela fez isso umas 3 vezes só. Ela me tranquilizava e incentivava a continuar na entrega.. João estava chegando. Dor mais forte, concentração cada vez mais difícil. A essa hora meu corpo vinha passando pelos puxos. No chuveiro, tive consciência deles. Putz, era uma dor rasgada mesmo. Quis não senti-la mais, quis que tudo acabasse logo. Comecei a pedir pro João chegar, se ele demorasse parecia que eu não ia aguentar. ”Vem, João, vem, João!”, pedíamos juntos.  Até que.. um coágulo coroou (pois é!), e a Lia achou que fosse o João. “Aahhh, que bom, ele tá chegando, ele tá chegando, já está acabando”. Tinha pouca luz ali na hora. Quando saiu o coágulo eu fiquei muito frustrada!

Voltei pro quarto, pra beira da cama, na banqueta, e comecei a pedir ajuda. Porra, tinha que existir alguma coisa que eu pudesse fazer que faria o João nascer e aquela minha dor ser aliviada, ou então não ia rolar, eu pensava. A Lia me mandava manter a força quando ela vinha, mas eu não conseguia. A Claudia sugeriu ao Fred que fizesse cócegas na minha barriga pra aumentar as contrações, ou a duração delas, não sei. Lia ouviu o BCF mais uma vez e me mostrou a pontinha do mindinho e disse: “falta isso aqui”. “Vem, João! vem, João!”. A Claudia e a Marília seguravam meus pés pra que eu mantivesse minhas pernas afastadas. Eu sabia que deveria mantê-las assim, mas meu corpo era tomado por movimentos involuntários, guiado por uma força que só quem passou sabe. Mais uma força, movida a muita dor, uma dor ardida e cócegas (um pouco irritante demais), e a cabeça dele começou a aparecer! As meninas iam me narrando, e o Fred a essa hora já ria. Era só manter, eu pensava! A Marília perguntou se eu queria o espelhinho, ou se eu queria tocar a cabeça dele, mas eu não quis. Fiquei com medo de me frustrar de novo, “vai que ele não tá tão pra fora quanto estou sentindo”. Mais uma força e a cabeça dele saiu. “Eu tô vendo, tô vendo”, o Fred falava, todo animado! A Lia me avisou que o cordão estava enrolado no pescoço, mas que ela já havia retirado a volta. Estava acabando e eu ia ter meu filho comigo, ia finalmente ver o rostinho dele! Gritei pedindo pro João vir, e mais uma força bruta veio! Mais um grito, fooooorça.. até que vi as mãos da Lia pegando meu pequeno e colocando ele na minha barriga. 00:01h do dia 22 de abril. Eu o peguei, o toquei, e senti seu cheiro. Que cheiro!!!!! Que cheiro maravilhoso!!!!! Ele estava com a cabeça caidinha virada pra baixo. Eu o trouxe pra mais perto e olhei nos olhos dele. Lindo, lindo, lindo, meu filho! O amor nasceu! E nasceu com aquele cheiro, aquele cheiro que eu desejei sentir pra sempre! Cheiro de cria é a muitooooo bom!!! Hahahahaha.. Nós 3 ali, juntos, como tantas noites, em tantas conversas na cama ou no sofá, eu e Fred sonhamos. Eu falava pras meninas: ele é lindo, é lindo! E agradeci.


No parto do João, nasceu também um sentimento em mim que eu nunca havia vivenciado naquela intensidade: a gratidão. Grata, muito grata eu me senti.. Grata a Deus, grata ao João, meu tão esperado filho, meu pequeno Ser de Luz, por me fazer viver uma gravidez e parto tão divinos! Grata às meninas, todas elas, por terem acreditado em mim, que eu ia conseguir.  Grata pela fé e pela ajuda na realização de um sonho da vida! Lia, Cris, Marília, Renata e Claudia, nossos anjos; sempre e pra sempre minha gratidão e admiração por cada uma!
João não chorou. Veio quietinho e quentinho pro meu colo. Falei muitas vezes que ele era lindo! Fred cortou o cordão quando ele parou de pulsar. Como a placenta resolveu dar um showzinho no final, a Cris levou o João pro quarto dele pra poder fazer os primeiros cuidados, na companhia do pai. Depois de umas doses de ocitocina, conversas com a placenta, concentração, rezas de um bando de mulheres, a lembrança da Santa Margarida que protege as paridas, a placenta saiu. Saiu com a promessa que seria plantada embaixo de um pé de limão siciliano no nosso jardim. Fiquei bem fraca depois disso. Mas estava em êxtase, totalmente! Tomei banho e voltei pra cama. Recebi meu filho de volta, já de roupinha e ainda com aqueeeeele cheiro viciante. Ele mamou, e eu comi: Pão de queijo, sanduíche de queijo e suco de uva! Hummmmmmm, delicioso!
E foi com a doçura da Lia, a calma da Cris, a força da Marília, a sabedoria da Claudia, a sensibilidade da Renata, o amor do Fred, a benção de Deus e a certeza de que TUDO daria certo que eu pari meu filho! João nasceu cercado de proteção, respeito e carinho! Bem ali, no nosso quarto, nosso ninho, nosso lar.



O limoeiro.

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